sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Foi um ano bom. Fico até meio tensa de escrever isso depois de tantos anos ruins. Vai que cai um raio em mim. Ou todos os fios de cabelo do lado direito da minha cabeça se partem ao meio. Não sei. Sempre penso que alguma coisa pode acontecer.

Eu não tinha um ano bom há bastante tempo. Vivia pra lá e pra cá com meus caquinhos. Acordava de manhã, catava os caquinhos e ia fazer o que tinha que fazer. Passava o dia carregando meus caquinhos e à noite chegava em casa, dava banho em cada um dos caquinhos, alimentava e colocava pijama neles. Dormia abraçada a eles. Eu de pijama xadrez, os caquinhos de pijaminha listrado.

Em 2011 eu me despedi de alguns caquinhos. Arrumei os pijamas e as meias dos caquinhos e eles foram embora carregando suas malinhas, alguns sem olhar pra trás, outros ameaçando voltar.

Alguns caquinhos ficaram aqui. Alguns ficaram porque eu pedi que ficassem, que não fossem embora agora, porque ainda preciso de caquinhos para me espetar o coração. Outros ficaram porque não queriam ir embora, gostaram daqui, onde têm pijaminhas listrados, meias quentinhas e um coração para espetar.

Depois que tantos caquinhos se mudaram, sobrou muito espaço. Sobrou tanto espaço que chegou o amor. Eu não acredito em amor, mas ele entrou no espaço que os caquinhos que foram embora deixaram. Ou já tinha entrado e eu não tinha percebido. Ele demorou para se apresentar, o amor ou o que quer que seja isso. Bom, chegou, tá aqui, tentando fazer amizade com os caquinhos que ficaram. Os caquinhos espetam o amor, desconfiados e cheios de ciúme, não querem dividir o espaço. O amor se esconde dos caquinhos, porque às vezes eles espetam pra valer e dói muito, mas não é por mal. Eles vão aprendendo a conviver, os caquinhos e o amor ou o que quer que seja isso.

Eles têm aprendido a conviver neste ano bom, estão ansiosos para o próximo ano e o amor ganhou um pijama de caveirinhas e meias quentinhas, pra não morrer de ciúme dos caquinhos e seus pijamas listrados.


Pra você eu desejo um ano com menos caquinhos espetando o coração e mais amor.

Feliz ano novo!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Faz pouco tempo eu percebi que não tenho mais colocado estrelinhas nos e-mails dele. Não marco mais com estrelinhas os e-mails que ele me manda perguntando how are you doing ou what's new in your life. Os e-mails onde eu passei a ser Renata, sem nenhum apelido.


Fiquei transtornada com a culpa. Queria dar um abraço e pedir desculpa. Não fiz por mal. Eu, que prometi tantas coisas, abandonei as estrelinhas.

Corri os olhos pela caixa de entrada procurando os e-mails sem estrelinhas e descobri que as estrelinhas estavam em outros e-mails, mais raros, onde eu virei Rê, mesmo sem nunca ter sido Rê na minha vida.


sempre fui tata ou nata. nunca rê.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Tem esse menino que se mudou pra uma casa nova. E na primeira vez que eu fui à casa nova dele, levei uma garrafa de vodca. Ele tinha acabado de sair de uma crise de gastrite. That's how I roll.

Daí há uns meses eu vi uns enfeites de natal que tinham super a ver com a profissão dele e pensei em comprar. Mas não achei no Brasil e o site que vendia os tais enfeites não enviava pra cá. Deixei pra lá.

Da última vez que eu fui à casa dele, nós estávamos voltando do almoço e ele reparou que tinha a única porta do andar sem enfeite de natal. E eu resolvi procurar um enfeite que tivesse a ver com a casa de um menino moderno solteiro e heterossexual.

Não sei se você gosta de natal ou se odeia como eu. Não sei se você já reparou. Mas não existe nada pra natal que não seja cafona. Desculpe se você gosta de natal, mas é tudo cafona. Você gosta dos enfeites porque tem boa vontade e um coração bom. Eu não tenho nem um nem outro, então posso confirmar pra você: é tudo cafona. Eu sei bem disso porque sou filha da louca do natal. Chega no natal e minha casa vira a oficina do Papai Noel. Cada porta tem um enfeite de natal. Sim, cada porta da casa. Estou falando de portas internas.

Na porta de entrada tem essa mega guirlanda, provando que natal não combina com homens modernos, solteiros e heterossexuais:



Bom, não encontrei nada que combinasse com a casa do menino. Nada que fizesse ele achar graça e dar um sorrisinho e não pensar "meudeus, essa garota tá louca. onde ela acha que eu vou pendurar uma guirlanda de ponto de cruz?" ou alguma coisa do tipo.

No meio da minha procura - eu tinha esperança de encontrar uma caveira com chifres de rena ou sei lá - eu achei umas forminhas de gelo com formato de caveirinha, comprei e mandei pra casa dele.

Sim, eu fiz isso.

Eu mandei duas formas de gelo pra ele, sem cartão ou explicação do motivo pelo qual eu estava mandando duas formas de gelo pra ele. Porque não tinha explicação, né? Não tem explicação. Eu queria comprar uma rena-caveira e comprei duas formas de gelo. Eu posso tentar, mas não vou conseguir explicar. Porque não tem explicação.

Acho que a única forma de terminar este post é lembrando o que eu faço da vida: educo pessoas.

Você já sabe a quem culpar se daqui a uns 10 anos nós tivermos toda uma geração de pessoas fluentes em Inglês (vamos torcer, né?) que não têm um namorado.

domingo, 18 de dezembro de 2011

se eu chorar

No sonho que eu tive há algumas semanas, nós nos reencontrávamos lá, como vai ser de verdade, mas a cidade tinha praia. Nós íamos comprar peixes numa barraquinha na areia e eu dizia "eu vou comprar peixe aqui todos os dias e vou te esperar em casa com o jantar pronto." Tudo que eu não fui capaz de fazer. Não sou capaz.


Nem naquele dia na praia depois que nós nos conhecemos. Nem naquele dia em que eu saí correndo de mala na mão e intoxicação alimentar pra nossa primeira viagem juntos. Nem quando eu desembarquei naquela estação gelada com minha mala de 30kg. Nem quando eu levantei os olhos do computador e vi a jaqueta de couro marrom antes de ver o rosto. Nem quando nós nos despedimos pra sempre com a porta do elevador aberta e eu prometi o que eu não pude cumprir.

Nem quando eu tinha todos os motivos do mundo eu fiquei nervosa assim.




tô (mais) dramática.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ele disse, rindo, que gosta de músicas estranhas.

Eu não disse - não sei por que não disse, acho que porque sou tonta - mas pensei.

Pensei que uma das coisas que eu mais gosto nele é o gosto musical. Mesmo que eu não conheça nem metade do que ele ouve. Eu amava chegar lá, quando a gente ainda estava se conhecendo, e ver que tava tocando uma música que eu nunca tinha ouvido na vida. E quando tava tocando alguma coisa que eu conhecia, eu queria dar um abracinho e dizer "também gosto dessa!" Mas não dizia.

A gente pode ser bem pateta às vezes. Quando eu digo a gente, estou falando de mim. Quando eu digo às vezes, estou falando do tempo todo. Sempre.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Não tem nada melhor do que ganhar um presente surpresa que é a sua cara. No caso, a minha, que é toda colorida.

:)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Você passa por um conhecido, deseja bom dia. Ele olha de volta com um sorriso estranho.

Você olha pra baixo e entende: sua camisa está desabotoada.

Adoro minha vida.

domingo, 27 de novembro de 2011

Eu trabalho num lugar onde as aulas são constantemente observadas. Alguém assiste à aula da professora e depois envia um feedback, dizendo o que foi legal e o que não foi.


No último feedback que eu recebi, um dos comentários feitos foi que eu sou muito autoconfiante.

(Foi um elogio, não uma crítica)

Daí fiquei pensando. Autoconfiante. Autoconfiante. Autoconfiante.

Bom, em algum lugar da minha vida eu tenho que ser, né? Mesmo que seja só na sala de aula.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

É ruim terminar. Acho que pra todo mundo. Pra mim tem uma coisa particularmente difícil em terminar.


Eu não me sinto confortável. Assim, no mundo. Eu não me sinto confortável. Eu nunca me senti confortável. Eu não me sentia confortável quando era criança. Quando era adolescente, me senti menos confortável ainda e quando virei adulta, além de não me sentir confortável, eu fui tentar entender por que eu não me sinto confortável, o que só fez com que eu me sentisse menos confortável ainda.

Eu não sei onde colocar as mãos e os pés e eu nunca acho que estou olhando na direção certa. Todos os meus gestos foram treinados e você pode me ver e achar que tá tudo normal, mas eu tô planejando a posição das minhas sobrancelhas na sua próxima frase ou estou mordendo as minhas bochechas só porque sim.

Algumas vezes na vida eu conheci pessoas com quem eu me sentia confortável. É uma coisa que leva muito tempo. Leva muito tempo até que eu deixe de esconder as mãos nos bolsos e consiga segurar a mão de alguém. Mais tempo ainda pra que eu não tente me livrar de um abraço. Mais tempo ainda para que eu voluntariamente apoie minha cabeça no ombro de alguém. Algumas pessoas dizem "eu te amo"; eu permito que as pessoas mexam no meu cabelo e me abracem.

E depois de tanto tempo, quando eu finalmente consigo ficar parada vendo tevê com um braço em volta de mim. Quando eu finalmente me sinto confortável com aquele calor que não é meu. Além de me despedir do sentimento, eu tenho que me despedir do corpo. Das mãos, dos ombros, dos pés que depois de tanto tempo eu permiti que tocassem os meus embaixo do lençol sem que eu tivesse um ataque de ansiedade. Não tem mais. E é só o meu corpo de novo, sem saber o que fazer com meus dedos dos pés dentro do tênis, tentando esconder que estou procurando uma posição confortável pra minha própria língua dentro da minha própria boca.

Não é só dar adeus a alguém. É dar adeus ao meu conforto.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

gosto que me enrosco

Menino que diz, enquanto nós dois andamos de mãos dadas, cheio de deboche:


-Até que você anda rápido pra uma menina.

E olha pra mim esperando o mimimi.

Não faz assim.


não pode ser normal o tanto que eu gosto de deboche. não pode ser normal.

(mas quando você conhece meus pais, tudo faz sentido. eu garanto)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

E tem outra coisa sobre essa história de mudar o nome dele no celular.


Eu troco o nome dele por "Eu sou confuso!!!" e quando o telefone toca, vejo o nome e digo "Ah, eu também sou. O que é que tem?"

E atendo.

A-ten-do.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Hoje eram sete, veja bem, sete ratinhos de brinquedo aos meus pés.


Daí eu tive que dizer "ih, gente, sabe que eu até perdi o medo? eles são de brinquedo. não tenho mais medo."

Daí eles começaram perguntar:
-Tia, você tem medo de barata? E de rato de verdade?

Ai.

domingo, 6 de novembro de 2011

Eu nunca dividi nada com meu irmão além dos meus pais. Nunca dividi quarto, comida, brinquedos, computador, nada. Fomos mimados como filhos únicos. Eu sou muito chata com essa coisa de espaço. Nem vou começar a falar porque senão nunca mais paro se começar a falar dessa coisa de "dá licença, você tá muito perto de mim, tá respirando o meu ar!"


Daí esse fim de semana eu dividi um espaço com meu irmão pela primeira vez. Porque EU FUI VER OS STROKES TOCAREM em São Paulo e ele foi também e nós ficamos no mesmo quarto de hotel.

Hoje de manhã, morrendo de frio, perguntei se dava pra diminuir o ar condicionado. Ele disse que sim e colocou em 25 graus.
-Nossa, quantos graus tava antes, Rafael?
-Vinte.

Vinte graus.

Eu sou do Rio de Janeiro, quando faz 20 graus eu já olho pra cima esperando a neve cair.

Mas homem não sente calor, né?

Daí pensei que, olha, além de tudo, além de todos os problemas que eu tenho, se um dia eu quiser me casar ou qualquer coisa assim, ainda tenho que me preocupar com a incompatibilidade de temperatura que separa homens e mulheres.

Não é fácil.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A pior coisa do mundo é esperar alguém mudar.


Você diz que não tá esperando, que você sabe como as coisas são. Mas você tá esperando. Você tá. E a pessoa não está mudando, é claro que não. Porque as pessoas não mudam. Principalmente pessoas que disseram que não vão mudar. As pessoas não mudam. Você diz que sabe disso e que não tá esperando. Mas você tá mentindo. É isso que a gente faz enquanto espera alguém mudar.

Daí você pensa que se ficar encolhidinha no seu canto, bem quietinha, ele vai achar essa atitude tão legal e não-controladora, que vai mudar, só pra te fazer uma surpresa. Mas não.

Daí você pensa que tem que dar um sinal, que aí ele vai perceber que o certo é mudar, só pra te fazer feliz. Mas não.

Daí você combina as duas atitudes, uma hora ele vai mudar. Mas não. E além de tudo você parece maluca. Porque, né?

Você parece maluca porque está esperando alguém mudar ao mesmo tempo em que diz que não está esperando ninguém mudar. Porque as pessoas não mudam.

Tanto tempo de vida e você ainda cai nessa.

Bobona.

domingo, 30 de outubro de 2011

No meio da historinha que eu estava contando para meus minialunos, havia a palavra "mouse". Daí fiz todo um teatrinho sobre como eu tinha medo e não gostava de ratos.


Na aula seguinte, minialunos chegam com sorrisinho de canto de boca. Quando eu percebo, estão colocando ratinhos de brinquedo nos meus pés. Ratinhos que andam e fazem barulhinho.

Eu fiz uma cena. Falei "oh, my god! oh, my god! mice, mice! help me!" e eles morreram de rir.

Só que. Vai fazer uma brincadeira que agrade a crianças de 7 anos pra você ver. Tem que repetir até morrer de exaustão. E passei o resto da aula dizendo "oh, my god", dando pulinhos e fugindo de ratos de brinquedo.

E eu ouvi a Mari C. falar pro Lucas:
-Não, Lucas. Não pode colocar na cabeça da tia, porque tem rodinhas e vai ficar preso no cabelo dela. E se a tia ficar careca?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Este semestre fiquei com uma turma que já tinha sido minha há um ano. Na primeira aula, fiquei impressionada em ver como o inglês de uma aluna - adolescente - tinha melhorado. Ela tava mais participativa, sem medo de falar, boa gramática, bom vocabulário.


Mas, naquela confusão de primeiro dia, ela foi embora e eu não disse nada.

No segundo dia, planejei melhor. A aula acabou e eu fui até a mesa dela e disse "R., queria te dizer que fiquei muito feliz em ver você falando inglês. Como seu inglês tá bonito, parabéns."

Daí eu vi uma coisa que vejo poucas vezes. Ela abriu um sorriso enorme e disse "Poxa, obrigada. Você não sabe como eu fico feliz de ouvir isso de uma professora como você."

O inglês dela é bonito, de verdade. Ela é linda. E pra mim foi uma lição. Como receber um elogio e ainda retribuir com outro, da forma mais natural do mundo.

Vou tentar fazer isso também. :)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

como os sentimentos esdrúxulos

Eu tinha que procurar os comprovantes de que votei nas últimas eleições. Mergulhei na minha gaveta de documentos e coisas que importam. Por coisas que importam você pode entender desde canhoto de cheque até ticket usado do metrô de Paris. Coisas que importam.


Achei os comprovantes, é claro. Eu tinha certeza de que eles estariam lá. Achei meus comprovantes.

Junto com os comprovantes, achei um rascunho da última carta de amor que eu escrevi. E fiquei pensando em como um menino pode ser tão bobinho e nem perceber que aquela carta que foi parar nas mãos dele como quem não quer nada é uma carta de amor. Ou como um menino pode ser tão esperto e fingir que nem percebeu que aquela carta é uma carta de amor.

Então fiquei pensando em como eu sou tonta. A tonta sou eu. Tão tonta que só agora, tanto tempo depois, entendo e admito que escrevi uma carta de amor.


sim, era ridícula.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

-Ah, então você tá apaixonada?

-Não sei, acho que tô, né?
-Não sabe? Como não sabe?
-Não sei, mas acho que tô. Não lembro bem como é.

Daí ela me explicou alguns sintomas de paixão. Juro pra você. Eu ali, sentada na poltroninha. Ela lá, escrevendo coisas na pasta que tem tudo sobre mim e me explicando quais são os sintomas da paixão.

os.sintomas.da.paixão.

Eu mereço a vida que eu levo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Perdoei muitas coisas. Consegui entender que a dificuldade dele era a minha. Que o medo dele era o meu. Que o que ele não podia prometer a mim eu também não podia prometer a ele. Que a culpa não foi só dele. Que se ele não quis se jogar, eu também não quis, do meu jeito. Que a mágoa era da vida, do amor, que chegou tão grande num momento tão impróprio, não dele. A mágoa não é dele. É de nós dois, dois atrapalhados.


Ficou aquela dorzinha no fundo do coração sempre que eu lembro. Ficou uma amargura que eu ainda não sei bem onde colocar, mesmo depois de tanto tempo. Ficou um pé atrás com todo mundo que aparece. Ficou uma mágoa da vida, do amor, mas não dele.

Só sobrou uma mágoa dele. A única culpa que eu jogo nele é ter permitido que eu me apaixonasse por outro. Aquele espaço que ele abriu e que agora me faz pensar de olhos fechados em outro menino.

Por que você foi tão adulto e desejou que eu fosse feliz?

Isso não se faz.

sábado, 8 de outubro de 2011

uma flor roxa

Vou repetir aqui a pergunta que já fiz mais de três milhões de vezes para amigos, analista, Hannah de língua de fora e focinho molhado, estrelinhas no céu.


Por que é tão difícil? Por que eu tenho que fazer tanto esforço? Não era pra ser fácil?


eu sei, foram três perguntas e não uma. mas é disso que eu tô falando.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Funciona assim: você dá uma topada no pé da cama, o seu pé dói, você xinga. Se doer muito, você pode até chorar um pouquinho, cai uma lágrima, talvez caiam duas. Você vai andando com a dor e deixa pra lá.


Eu dou uma topada no pé da cama, o meu pé dói, eu xingo. Um pouco porque doeu, um pouco porque eu sou desbocada mesmo. Eu choro um pouquinho. Eu decido que tá doendo muito e tenho que chorar mais um pouquinho. Eu derramo muitas lágrimas. Eu decido que ainda está doendo, então eu preciso chorar mais. Não para de doer. Eu me acho uma idiota. Como eu não vi o pé da cama? Eu choro um pouco pela dor - ainda tá doendo - e um pouco por ser idiota. Eu decido que sou muito idiota, talvez a pessoa mais idiota do mundo. O pé da cama sempre esteve ali, por que eu não desviei? Ainda tá doendo, não para de doer e além disso eu sou uma idiota. Sou mais idiota ainda porque não consigo esquecer. Já passou, foi há tanto tempo. Por que eu ainda tô pensando nisso? Eu tento andar com a dor. Dói mais ainda. Como eu sou idiota, nunca vai parar de doer. Como eu permiti que isso acontecesse? Bastava desviar do pé da cama. Eu fui idiota e dei uma topada e agora não consigo nem andar.

Daí eu choro porque bati o pé, porque sou idiota, porque não consigo esquecer, porque eu não consigo andar direito e por que mesmo, hein?

Já são tantos motivos que era melhor nem ter dedos pra não sentir a dor da topada e - nossa mãe! - acabo o dia chorando porque tenho dedos.


quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Tá tudo errado. Tudo errado. De dar vontade de passar o dia de boca aberta, perguntando "por quê?"


Daí o Anthony Kiedis tira a camiseta no final do show.

E não importa mais que esteja tudo errado. Não importa mais aquele corte de cabelo ridículo e aquele bigodinho inexplicável.

O Anthony Kiedis tirou a camiseta. Mesmo que tenha sido só na última música.

Posso considerar um sinal de que tudo vai dar certo?


a adolescente dentro de mim parou de dançar uma música legal e ficou olhando pra tevê sem som, assistindo ao show lá onde eu tava, copo de vodca na mão. tudo vai dar certo.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

das pequenas obsessões

Estou convencida de que o verdureiro cobra mais caro de mim. Tenho passado a maior parte do meu tempo pensando nisso e pensando na armadilha que vou montar pra pegá-lo no flagra.


Pra você ver como minha vida anda animada.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

-Blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá.

-Blá-blá-blá, não pense nisso, pensa em mim, que sou muito mais legal.
-Ah, nem precisa dizer, penso sempre.

Só na minha cabeça, né? Só na minha cabeça. De verdade mesmo eu fiz qualquer piada idiota.

É por isso que eu não tenho namorado, a série interminável.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

como pude

Quando finalmente acabou e você treme de pavor só de pensar em quando ainda não tinha acabado.


Ai.

Pavorpavorpavor.

Sabe como é, né?

Pavor.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Depois de muito tempo. Muito tempo. A coragem de descer do meu pedestalzinho e dizer "eu gosto de você."


Sem querer nada em troca. Sem querer dizer nada além disso.

O peso tirado das costas por não querer dizer nada além disso.

:)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Dor no corpo, moleza, cansaço, tontura, vontade de passar o dia na cama, olhos pequenos e vermelhos, taquicardia.


Parece gripe, mas é só tristeza.

...

Eu sempre me pergunto quanto tempo será que as pessoas levam pra perceber que quando perguntam "você tá bem?" e eu respondo "mais ou menos. tô passando mal." eu tô falando mesmo é de tristeza.

Será que elas percebem?

...

Daqueles dias em que quero retribuir qualquer gesto mínimo de carinho com um mega abraço e um muitoobrigada.vocênemsabecomoajudou. Mas não consigo, exigiria muito esforço.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Fui correndo abrir o e-mail pra encaminhar a mensagem que eu tinha acabado de receber.

Não.

Espera.

Já chega.

Joguei pro universo.

Nada de analisar e-mails, SMSs e afins.

Joguei pro universo.

Do outro jeito tava muito complicado e consumindo muito tempo da minha vida que eu podia muito bem dedicar a passar meu rímel com mais atenção, por exemplo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Na análise:
-Mas então, Renata, o que você tá dizendo é que as pessoas têm que correr atrás de você e cair aos seus pés sem que você faça qualquer esforço pra que isso aconteça?

Ahn...


Deixa eu parar um pouquinho pra pensar.

Bom.

Hm.

Bem, não adianta negar. É isso que eu acho mesmo.


pior do que ouvir é concordar?

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Na aula anterior, o Vinícius, oito anos, avisou que na próxima aula era aniversário dele. O Matheus, oito anos, prometeu que ia dar um tobogã de presente. Eu logo disse:


-Olha, um tobogã é muito grande. Matheus, como você vai trazer um tobogã pra cá? Não vai dar.

No dia do aniversário do Vinícius, ele não tinha esquecido a promessa e chegou logo pedindo o tobogã. O Matheus disse que não tinha levado.

-Vinícius, lembra que eu falei que um tobogã é muito grande? Então, o Matheus não tem um caminhão, não deu pra trazer seu tobogã.

Vinícius, que tava fazendo nove anos e ainda acredita que a vida tem que ser justa e que se você for legal vai ganhar coisas legais como um tobogã em troca, não se conformava:

-Mas só porque ele não tem um caminhão eu vou ficar sem meu tobogã? Como eu fico, Renata?

Vini, você fica sem seu tobogã, I'm so sorry. I have news for you: a vida não é justa e quando a gente é legal, a única coisa garantida que recebe em troca é ficar rodeado por outras pessoas legais, como o Matheus, que bem que queria dar um tobogã de presente. E isso já é muita coisa.

Mas tobogã de verdade e garantido não tem, não.


não fiz todo esse discurso pro Vinícius, né? que, coitado, era aniversário dele e ele não merecia. tudo ficou resolvido quando eu dei um papel pro Matheus e falei pra ele desenhar um tobogã bem bonito pro Vinícius. Ele desenhou um tobogã ocupando todo o espaço, dobrou e entregou pro amigo.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Eu tenho duas respostas básicas pra quando me perguntam "E aí, como estão as coisas com os meninos?"


-Péssimas.
-Uh, quem se importa?

Sempre positiva. Sempre pra cima. Sempre alto astral.


o título do post poderia ser reclamando de barriga cheia, eu sei. eu sei.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

E aqueles dias em que não quero fazer nada a não ser ficar sentadinha, abraçada aos meus joelhos, sentindo pena de mim mesma e chorando em intervalos regulares.


Que dó. Que dó.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Eu tenho astigmatismo e não gosto de usar óculos. Se você não tem astigmatismo nem se importa em usar óculos, essa informação não significa nada. Se você é como eu, sentiu a dorzinha no coração que deve sentir sempre que compra lentes.


Lentes de contato para astigmatismo devem ser tóricas. Eu não tenho ideia do que sejam lentes tóricas. Só sei que elas têm um pontinho que as outras não têm e que elas custam o dobro do preço.

O dobro do preço.

Daí um dia desses eu bebi demais e no dia seguinte tinha que arrumar a mala pra viajar e só aí percebi que tinha perdido uma lente. Perdi uma lente.

Perdi uma lente tórica.

E foi aí que eu tomei uma decisão importante: lentes de contato agora só descartáveis. Se eu beber demais e perder de novo, o prejuízo é menor.

Também me disseram que eu poderia simplesmente parar de beber, mas não consegui confirmar se é possível.

-Como você está?

-Estou menos atormentada.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Menino que chama a garçonete pra avisar que cobraram um refrigerante a menos na conta.


A atração, que - deixa eu ser sincera aqui - já era enorme, foi multiplicada por mil.

Sou bem desse tipo.

não fui eu que tomei refrigerante. não sou desse tipo. ;)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Minialuno me chama, pedindo:

-Tia, me ensina uma coisa?

Meu coração se enche do mais puro amor. É claro que eu ensino, querido. Eu nasci para ensinar. Nunca quis fazer outra coisa na vida além de ensinar. O que você quer aprender?

-Como faz o "s" daqui?

E aponta pra palavra "page".

-Como assim, Lucas? Nessa palavra não tem "s".

Erro número um: esperar que as coisas façam sentido. Se o mundo, que é o mundo há bilhões de anos, não faz sentido, não é um minialuno de sete anos que vai fazer.

-Tia, assim, me ensina a fazer o "s".
-Faz um "s", ué.

Pequeno momento de pânico. Essa criança não é alfabetizada? Me deram uma criança não alfabetizada? O que eu faço? Socorro, socorro. O que ele tava achando que eram todas essas letras? Desenhos? Por que só agora, depois de cinco aulas, ele vem revelar que não sabe escrever?

-Tiaaa, me ensina a fazer o "s" dessa palaaaavra.
-Lucas, "page" não tem "s".
-Aqui, tia, aqui, me ensina!
-Lucas, você está apontando pra uma palavra que não tem "s". Me explica o que você quer.

Erro número dois: continuar procurando o sentido. Por que eu não simplesmente saio assoviando e pensando em pandinhas lindos, como se o assunto estivesse resolvido? Por que não? Por que eu não consigo?

-Eu quero fazer o "s".
-Tá. Você não sabe escrever?
-Tiaaa, me ensina o "s" em inglês aqui nessa palavra.
-Lucas, eu já falei que essa palavra não tem "s". Essa palavra tem "p", "a", "g" e "e". Não tem "s".
-Tia, mas essa palavra tá em inglês. Por favor, me ensina o "s" em inglês.
-O "s" em inglês?
-É, tia. Como é que eu escrevo a letra "s" em inglês?

de.onde.surgiu.essa.dú.vi.da?

-Lucas, o "s" é igual em português e inglês. Pode fazer igual. Você sabe fazer o "s" em português? Então, em inglês é igual.
-Uau! Sério, tia? É igual mesmo?

E ele fez o "s" mais bonitinho do mundo.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

É sempre estranho falar com quem eu mais amei na vida e só desejar feliz aniversário. Não dizer "I love you", "I miss you", "Que saudade!"


Sempre estranho, mas cada vez mais normal. :)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Eu gosto de reclamar. Caso isso ainda não esteja claro, mas acho que está: eu gosto de reclamar e eu reclamo de tudo. I'm only happy when it rains. Quando as coisas dão certo eu me sinto desconfortável, eu não sei o que fazer, eu quero fugir, correr bem rápido até não estar mais aqui.


Eu gosto de reclamar. De verdade. Eu reclamo desde criança. É um talento, é um dom. Mais do que qualquer outra coisa que eu sei fazer. Das coisas que eu aprendi e das coisas que eu nasci sabendo, reclamar é a minha favorita e a que eu faço melhor.

Em reclamar eu sou campeã.

Só que. Chega aquele momento em que eu quero reclamar porque não tenho uma coisa. Quero que o mundo exploda. Que vida injusta. Tenho tudo, só não tenho aquela coisinha que eu quero tanto. Nunca quis tanto uma coisa em toda a minha vida. Eu mereço isso. Eu quero ser feliz. Eu, eu, eu.

E parou. Chega, chega, chega.

Respira 1, 2, 3. Deixa o drama de lado.

De repente é hora de parar de achar que só pode ser de um jeito, que só tem uma fórmula pra isso. De repente é hora de parar de querer que seja do meu jeito.

Vou parar de fazer o Morrisey,

e tentar fazer o Mick.


Vai que dá certo, né?

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Por mais que você tenha aceitado que não dá e tenha entendido que não tem como. Porque você entendeu. Tá? A questão não é essa. Você tá indo pra frente com os dois pés, em passinhos pequenos, mas um atrás do outro.


Tá? De verdade.

Mas, olha, não dá. Seu melhor ex-namorado publica fotos segurando um dos bebês mais lindos do mundo.

Vida, tá de sacanagem?

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

E tem aqueles dias em que no meio do dia, eu sento pra almoçar e me sinto tão cansada que não consigo nem pensar em cortar minha salada.


Não acredito que vou ter que cortar essa salada. Depois vou ter que mastigar tudo isso e engolir e depois vou ter que pagar a conta e levantar e depois vou ter que escovar os dentes. E vou ter que abrir minha necessaire e retocar minha maquiagem. Talvez eu até tenha que arrumar meu cabelo. Tenho que abrir a porta da minha sala, ligar todos os aparelhos. Vou ter que fechar a porta, ir até a sala dos professores, esperar a hora da aula. Vou ter que dar aula. Ter intervalo. Vou ter que lanchar. Vou ter que dar mais aula. Vou ter que acabar de trabalhar, pegar um ônibus. Meudeus, vou ter que achar minha chave na bolsa, abrir a porta e trancar a porta. Vou ter que subir dois lances de escada, abrir e trancar mais uma porta. Tenho que tirar minhas lentes de contato, tomar banho, escovar os dentes, pentear o cabelo, colocar meu pijama.

E aqui-agora tenho que cortar minha salada. Não acredito que tenho que cortar minha salada.

E ainda tenho meio dia inteiro pra viver.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

não esperou, :P

Eu estava embrulhando um presente na mesa comum da sala dos professores, no meu horário de almoço.


-Pra quem é esse presente?
-É pra um menino. hihihi.
-O que é?
-Um disco de vinil. Vou encontrar com ele hoje, mas o aniversário é só daqui a uns dias. Será que ele aguenta esperar até lá pra abrir?

E lá do outro lado da sala alguém grita:
-Ai, Renata, mas outro leonino? Você não tem limites?


Ahn... não? ¬¬

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Passo o dia todo de mau humor, tudo me irrita, odeio o mundo, odeio a vida, odeio essa caneta que eu estou segurando. Até que eu olho pra baixo e percebo a causa. É ele, o sapato. O sapato, esse maldito, tá muito apertado, tá machucando meu pé em três pontos diferentes. Não sei como estou aguentando ficar em pé. Que dor, que dor.


Na última aula do dia, faltando menos de uma hora pra ir pra casa, lá estou eu, em pé ouvindo os alunos falarem. Olho para os meus pés. Como é fofinha essa sapatilha. Adoro esse laço. Poxa, quase não uso, fica parada lá no armário. Ah, ela machuca, mas nem tanto assim.

Machuca, mas nem tanto assim.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Não adianta. Posso reclamar, espernear, fazer pirraça. Não adianta, não tem jeito. Não posso fazer nada além de chegar lá com o rabinho entre as pernas, na humildade e dizer de uma vez:


-Lembra aquilo que eu disse que não ia acontecer? Lembra que eu falei "pode escrever o que eu tô dizendo. quando eu voltar aqui na próxima sessão você vai ver que eu tava certa"? Então, eu estava errada. Aconteceu o contrário do que eu disse que ia acontecer. E eu adorei.

A grande pergunta é: você prefere ser feliz ou estar certa?

domingo, 31 de julho de 2011

É ótimo viajar sozinha - eu gosto de ficar sozinha. Também é ótimo viajar acompanhada. É ótimo viajar - eu gosto de viajar.

As únicas coisas chatas de viajar sozinha são:
1. Em quase todas as suas fotos você vai sair com aquelas bochechas gigantes porque tirou fotos de si mesma da distância do seu braço. Se você vai viajar sozinha, abre mão de sair linda nas fotos. Abre mão. Aceita suas caras na foto. Aceita.

no Centro Gabriela Mistral

2. Sempre vai ter alguém que vai reparar que você tá sozinha. E vai perguntar. Daí quando você confirmar, a pessoa vai dobrar a cabeça assim pro lado, fazer uma carinha de pena e perguntar "Por quê?" E você não tem muita saída. Diz logo a verdade. Diz que você é uma pessoa horrível, não tem amigos e ninguém que se importe minimamente com você a ponto de pegar um avião junto com você e dividir um quarto e essa coisa toda. Diz a verdade. Diz que você é insuportável e ninguém aguenta ficar perto de você por tanto tempo. Depois disso, não há mais perguntas chatas. Só sorrisos constrangidos. Mas antes os deles do que os seus.

no Parque de Las Esculturas

desde que a Camila me incentivou, eu nunca mais deixei de viajar porque não tinha companhia. se meus amigos não têm férias junto comigo, não têm dinheiro ou não querem ir pra onde eu quero ir, nada mais é desculpa. eu vou sozinha. e ainda faço cara de badass e tiro muitas fotos fazendo rock on.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Nao sei acentuar neste teclado.

Jah corri da policia.

Jah fui atropelada por uma bicicleta.

Jah encantei garcons.

Jah comi muito bem.

Jah bebi muito vinho. E pisco sour. E cervezas.

Jah andei a cidade quase toda a pe.

Jah amei muito esse friozinho seco que faz aqui.

Jah me apaixonei muitomuitomuito por Santiago.

domingo, 24 de julho de 2011

Sobre essa minha, hum, tendência, a curtir meninos que estão longe de mim, minha analista fez a seguinte pergunta:

-E aí, vai voltar das férias com um chileno?

Eu queria dizer que não. Mas, he, quem sabe, né?

Então, vou ali e já volto.


eu aluguei um apartamento com wifi, mas tô levando só o celular e é ruim escrever naquele tecladinho, né? então acho que esta semana não tem post e talvez eu demore pra aprovar comentários.

E tem menino que estraga vários posts ressentidos com o mundo e com a vida e com o universo que estavam engatilhados aqui.


Mas que droga, nem amarga eu posso ser em paz.

;)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

nada

Eu mordi a língua. Todo mundo morde a língua às vezes, eu sei. Mas, olha só, eu dei uma mordida tão forte na minha língua que não sei como não arranquei um pedaço. Foi a mordida na língua mais forte de toda a história das mordidas na língua.


No dia seguinte, eu não consegui comer quando acordei. Me obriguei a tomar uma caneca de café, porque precisava ficar acordada. Como tudo na minha vida, eu esperei que passasse naturalmente. Eu não coloquei nenhum remédio. Só esperei passar. No meio do dia, tomei um suco. À noite, tomei outro suco e comi uma tigelinha de polenta. Depois tomei outro suco. E essa foi a minha alimentação durante o dia. Porque eu mordi a língua e por causa disso eu senti dor e fome.

E a mordida na minha língua continuou doendo mais do que tudo e me lembrando durante um dia inteiro o quanto eu sou idiota. Porque eu mordi a minha língua. E eu mordi tão forte que não sei como não arranquei um pedaço e eu não conseguia comer e eu escolhi não fazer nada.

Eu esqueci que algumas dores não passam. Como tudo na minha vida, era preciso fazer alguma coisa. A dor não ia passar sozinha. É claro que, como tudo na minha vida, eu esperei tempo demais pra resolver a situação. E quando cheguei em casa, já na madrugada do dia seguinte, não tinha remédio pra mordida na língua e não tinha farmácia aberta.

A sugestão que eu recebi foi aplicar bicarbonato de sódio. Eu era muito ruim em Química na escola, mas acho que nenhuma estupidez justifica eu só me tocar que bicarbonato de sódio era um sal quando eu coloquei na minha língua machucada.

O bicarbonato de sódio fez o papel dele e ardeu como um sal. E caíram duas lagriminhas. Uma por causa da dor. Outra por causa da minha estupidez.

No dia seguinte, só consegui comprar um remédio depois que saí do trabalho, quando parecia que eu estava sentindo dor desde que nasci. Eu já nem sabia viver sem aquela dor.

Uma amiga que já mordeu a língua a ponto de sangrar definiu isso como "muita inabilidade para viver."

Se eu não sei nem coordenar meus dentes e língua, o que é que eu sei?


minha mãe é que diz: "minha filha, como você é capaz de fazer isso com você mesma?" não sei, mãe. eu juro que não sei.

terça-feira, 19 de julho de 2011

-Você me faz suar. Calor não me faz suar. Um rottweiler rosnando me faz suar. Um carro buzinando pra mim porque eu atravessei a rua na hora errada e ele quase me atropelou me faz suar. Perder o equilíbrio e quase cair me faz suar. Me atrapalhar e mandar uma DM por engano pra minha timeline me faz suar. Um morcego voando baixo quase batendo na minha cabeça me faz suar. Você me faz suar.


Pode entrar pra série Elogios que eu gostaria de fazer mas gerariam mal entendidos.

Então fico na minha.

sempre pode ser pior.

domingo, 17 de julho de 2011

como sempre

Entro no táxi, já jogando a cabeça pra trás no banco, com aquela cara de quem vai pensando até chegar aonde tem que chegar.


E no rádio a Whitney Houston começa a perguntar para onde vão os corações partidos.

Whitney, querida, todos eu não sei. Só sei que o meu eu tô levando comigo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

na teoria é fácil

-Você é bonita.

-Ahahaha, você tinha que ter me visto na adolescência.

Não.

Não, Renata, ele não tinha que ter te visto na adolescência. Para de fazer piada de autodepreciação. Não é atraente. Nem engraçado é. Para. Just stop it. Não dá certo. Não faz isso.

Sorri e aceita o elogio, Renata. Sorri e aceita o elogio.

Diz obrigada. Dá outro sorriso.

É assim que se faz.

Aprendeu?

quarta-feira, 13 de julho de 2011

"E aí, Renatinha, tá solteira?"


Primeiro: hahahahahahahahahahahaha. Dois minutos rindo sem parar e mostrando a mensagem na tela do meu celular para todos os amigos à mesa. Vejam isso. Vejam isso. É com isso que eu tenho que lidar.

Segundo: que bom seria se todos fossem tão diretos assim, né?

E aí, Renatinha, tá a fim de perder seu tempo?
E aí, Renatinha, tá a fim de ficar de coração partido?
E aí, Renatinha, tá a fim de fazer papel de boba?
E aí, Renatinha, tá a fim de ficar esperando eu ligar assim que voltar daquela viagem a trabalho?
E aí, Renatinha, tá a fim de nunca conhecer meus amigos?

Hm. Pensando bem, não seria bom, né?

Ainda prefiro surpresas. He.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Final de domingo, tô lá esperando o embarque e - opa, o que tá acontecendo comigo? - começo a chorar lendo um texto da Martha Medeiros no celular. Sim. Isso mesmo. Pois é. Pois é. Eu me vi, num domingo à noite, chorando com um texto da Martha Medeiros.


Foi quando, no meio de toda a minha dor e do meu sofrimento, eu consegui entender o que estava acontecendo.

Ah, é você, TPM. Pode entrar, sinta-se em casa.


corri, comprei e comi um chocolatinho e tudo ficou bem de novo.

Você chega em casa no domingo à noite depois de um fim de semana fora. Vem puxando sua malinha vermelha linda que a empresa aérea quebrou porque não manuseia as coisas com o mesmo amor e carinho que você.


Daí você sobe os dois lances de escada carregando sua malinha e finalmente chega em casa.
-Filha, tem pastel pra você.
-Ai, mãe, que delícia. Amo pastel. Pastel é a coisa que eu mais amo no mundo todo! Que bom, que bom!

Seu pai interrompe seu momento de pura felicidade pra dizer:
-Ihh, não tem pastel, não. Não sobrou.

:´(

Opa, opa, opa.


Vocês estão todos loucos.

Não é pra ficar em casa remoendo mágoas, gente. É pra sair e conhecer pessoas. Mesmo que a gente não queira. Mesmo que a gente odeie pessoas. Mesmo que a gente tenha a certeza de que pessoas só causam problema.

Nada de ficar em casa.

Vamos otimizar o tempo. Vamos remoer mágoas no ônibus, indo pro trabalho. Vamos aproveitar o engarrafamento pra sentir pena de nós mesmos. Em vez de ouvir a bronca do chefe, vamos pensar que nada vai mudar.

Mas no sábado à noite, no domingo à tarde, sei lá, o tempo que você tem livre, nada de ficar remoendo tristezinha. Vamos conhecer pessoas, sim. Mesmo que seja só pra ter motivo pra reclamar.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

E na terapia a pergunta:

-Você está saindo pra conhecer gente?

Não. Não estou saindo pra conhecer gente. Odeio conhecer gente. Odeio gente. Gente só me traz problema.

Estou ficando em casa remoendo mágoas, sentindo que nada vai mudar e nada vai dar certo. Estou ficando em casa longe de toda gente.

Ok, ok, ok.

Já entendi.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Chego em casa num dia comum, era uma quarta-feira. Na quarta todo mundo trabalha, na quinta também. Ninguém tem folga no meio da semana. Daí chego em casa numa quarta-feira, num dia comum, entro na cozinha e tem, veja bem, não estou brincando:

-empadão de camarão
-quentão
-cocada
-pé-de-moleque

Tudo feito em casa, não tenha dúvidas disso.

No dia seguinte tinha festa junina no trabalho da minha mãe e ela não queria, veja bem, não estou brincando, que comprassem comida pronta. Tinha que ser tu-do feito em ca-sa.
...
Minha mãe é daquelas que diz "Não entendo quem compra nhoque pronto. É tão mais gostoso feito em casa! Não en-ten-do."
...
Na cozinha, desenhada pelo meu pai, tem um balcão enorme feito especialmente pra fazer comida. Quanta massa foi sovada ali eu nem sei dizer.
...
Uma vez uma pessoa veio aqui em casa num dia de festa - meus pais fazem todos os pratos em casa - e disse "Que bonitinho, um do ladinho do outro, parecem que estão numa fábrica. Olha só, cada um tem uma função." E eles passam o dia inteiro cozinhando.
...
Quando eu era criança, meu grande sonho era comer lasanha e pizza congeladas. Eu me achava muito jeca porque aqui a gente só comia comida caseira.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Uma das minhas alunas faltou a uma aula porque estava se recuperando de uma pequena cirurgia corretiva no nariz.


Veio ao curso fazer prova e assim que entrou na sala foi dizendo:
-Tenho um presente pra você.

Olha, eu sei, eu conheço. Presente? Não, não, não. Não caio nessa.

-Mari, nem vem que eu sei que é um pedaço do seu nariz!

Ela tirou um potinho da mochila. E o que era, o que era o presente?

Um pedaço do nariz dela.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Eu tinha trabalhado de 9 às 9. O dia inteiro pensando em aula, dando aula, corrigindo prova, preenchendo boletim, entregando tradução. De manhã até a noite.


Daí tava voltando pra casa e uma vizinha me chamou.
-Oi! Nunca te vejo!
-É, eu nunca passo por aqui.
-E o namorado?
-Não tenho namorado.
-Ah, você não foi feita pra casar, Renata.

você.não.foi.feita.pra.casar.re-na-ta.

Assim terminou o meu dia.

domingo, 26 de junho de 2011

Minha mãe me ensinou a não visitar uma pessoa com as mãos abanando. Nem sempre eu levei a sério o ensinamento, às vezes eu nem tinha planejado conhecer a casa de alguém, mas conheci. Mas eu tento, né? Se sei que vou conhecer a casa de alguém, tento levar alguma coisa.


Se tem uma coisa que eu não entendo na vida é decoração. Não sei nada de decoração, além de achar bonito ou feio. Então esses presentes de "oi, estou entrando na sua casa" nunca são itens de decoração. Porque tenho medo que a pessoa ache cafona e me ache cafona pra sempre e nunca mais me convide com medo de que na próxima visita eu dê um galo português, sei lá.

Bom, tudo isso pra dizer que quando eu conheço a casa de alguém, gosto de levar alguma coisa. Daí dessa vez eu não tinha ideia do que levar. Não ia dar tempo de fazer um bolo e se me lembro bem ele nem gosta de bolo. Comprei uma garrafinha de vodca e levei.

E você sabe o que eu fiz, né? Sabe, não sabe? Levei uma garrafinha de vodca pra um menino que tinha acabado de sair de uma crise de gas-tri-te.

Kill me now.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

ainda isso

-Teacher, você cortou o cabelo?

-Sim, Lucas, há mais de uma semana.

Cheia de mágoa no coração.


mais um pouco e eu começava a chorar e dizer "vocês não me notam! ninguém me nota! ninguém me ama! sou invisível!" tô bem equilibrada.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Que camisa branca linda! Que corte maravilhoso! Veste tão bem! Vale cada centavo! É tão linda, que vou usar só com uma calça jeans.


Só minha camisa branca linda e uma calça jeans.

E minha sapatilha rosa, pra alegrar a roupa.

Tá. Só minha camisa branca de corte maravilhoso, uma calça jeans e minha sapatilha rosa.

E um cinto de corrente dourada, pra dar um pouco de brilho.

Ok. Só minha camisa branca que veste tão bem, uma calça jeans, minha sapatilha rosa e um cinto de corrente dourada. Ainda está simples. Né?

Pro friozinho do ar condicionado no trabalho, meu cardigã novo. Verde bandeira. Adoro verde com rosa.

Então, ficamos assim: minha camisa branca que vale cada centavo, uma calça jeans, minha sapatilha rosa, um cinto de corrente dourada e meu cardigã verde bandeira.

E meu colar de coração partido.

E meu relógio dourado, que eu já uso todo dia mesmo.

E um rabo-de-cavalo com topetinho.

Não adianta. Eu nasci pra ser perua.

domingo, 19 de junho de 2011

u can't touch this

Porque aí eu passo horas, dias, to-da-a-mi-nha-e-xis-tên-cia falando sobre o menino, sobre aquele menino que eu já pensei que entendia e nunca entendi, e sobre como ele não se abre, não fala de si, não gosta de mim, não faz nada por mim, dá sinais malucos, um passo pra frente, um passo pra trás. Abraça como se gostasse. Não liga no dia seguinte como se não se importasse.


Converso com os amigos, revivo diálogos, encaminho e-mails, interpreto gestos. Não vou nem falar de quantas sessões de terapia já foram gastas nessa análise do nada, da música enviada, de como na maioria das vezes eu sou gatinha e não renata e como me incomoda não ser chamada pelo meu nome, do ponto final no sms, do ponto de exclamação no e-mail, sei lá, do convite pra fazer nada juntos, do carinho na mão durante o jantar. Todo um esforço pra entender, todo um esforço.

E, no final - que final? qual final? - tudo se resume a uma coisa:
-Ele é complicado. Você é complicada. Ele é igual a você.

Oi?

O quê?

Espera aí.

Não fala isso de mim. Eu sinto tantas coisas. Eu penso tantas coisas. Eu só não falo essas tantas coisas. Eu só não confirmo. Eu só não quero ficar por baixo. Eu só quero ganhar. Eu só quero uma garantia. Eu só quero ter a vantagem. Eu só quero me proteger. Eu só não quero prometer o que eu não sei se posso dar.

-Ele é igual a você. Você encontrou uma pessoa igual a você. Tá entendendo? Tá sentindo como é?

Pior que tô.

Fuck.

there's a gap in between
there's a gap where we meet
where I end and you begin
...
I can watch but not take part
where I end and you start


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ontem, eu mal tinha entrado na sala quando ouvi a pergunta:
-Tia, você cortou o cabelo?

Ontem foi quinta-feira. Eu tinha cortado o cabelo na sexta da semana anterior.

E meu aluno de 10 anos foi o primeiro a reparar. O primeiro a reparar.

Assim, entende o que eu tô falando?

Tem dias em que a vontade é ficar sentadinha, suspirando de mãozinha no queixo.

depois uma aluna adolescente também reparou, com um pouco de choque, que eu tinha cortado o cabelo. é que num rabo-de-cavalo alto ele parece mais curto. mas não se preocupem, ainda continuo no cabelão way of life.

terça-feira, 14 de junho de 2011

-Tia, você já sentiu, assim, que ninguém te entende e aí você já sentiu, assim, vontade de ir pra um outro mundo, onde as pessoas entendessem você?

-Sim, Ana Clara.
-Eu fico pensando, tia, como seria ir pra outro planeta. Será que os ETs iam me entender? Eu fico aqui pensando, como será que os ETs pensam? Ai, tia, tanto pensamento é filosofia, né?

Só se pode amar a Ana Clara.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Porque você passa esse tempo todo tentando ter o controle. Dizendo que não tem nada, que não existe nada, que tá tudo bem assim. Prometendo que você nunca mais vai sentir aquilo e nunca mais vai ficar de coração partido porque ninguém mais vai chegar tão perto.


E é só quando você tá chorando, arrasada, por alguém que não era pra ter te deixado arrasada, alguém que você jurou que não ia te deixar arrasada, que você pensa: estúpida.

Estúpida.

sábado, 11 de junho de 2011

Não basta trabalhar no sábado. Enquanto estou saindo de casa, ainda tenho que ouvir meu pai perguntar:

-Renata, você penteou esse cabelo?

Assim. Defina pentear.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Continuo firme no mantra.


elenãogostademim.elenãogostademim.elenãogostademim.elenãogostademim.

Quando acordo: elenãogostademim.
Quando fico feliz porque no restaurante tem berinjelinha com mel e nozes: elenãogostademim.
Quando meus alunos só falam em português: elenãogostademim.
Quando meus alunos falam lindo em inglês: elenãogostademim.
Quando como pão no lanche da tarde no lugar da minha maçã verde, porque preciso de carinho, amor e abraço: elenãogostademim.
Quando Hannah tem que ir ao veterinário, o diagnóstico é "alergia a cimento" e a conta nem te conto: elenãogostademim.
Quando traduzo comentário chato do diretor de filme de machinho e escrevo na legenda "ele arrasou!" só pra me vingar: elenãogostademim.
Quando uso minhas botas novas e me acho tão cool: elenãogostademim.
Quando nenhuma roupa fica boa, tô gorda, feia e chata: elenãogostademim.
Quando na mesma semana acontece um terremoto 6.5 e vulcão entra em erupção bem lá pra onde minhas férias já estão pagas: elenãogostademim.
Quando recebo e-mails de amigos no meio do dia: elenãogostademim.
Quando o vento levanta minha saia: elenãogostademim.
Quando eu quase não consigo abrir o frasco de vitaminas de manhã: elenãogostademim.
Quando o verdureiro cobra mais caro de mim: elenãogostademim.
Quando não lavo as mãos antes de mexer nas minhas lentes de contato: elenãogostademim.
Quando eu esqueço de comprar pilhas pros meus controles remotos: elenãogostademim.
Quando eu perco horas de sono pra comprar ingresso pra ver os Strokes: elenãogostademim.
Quando meu irmão diz que eu sou a pior adulta que este mundo já viu: elenãogostademim.
Quando o delineador verde borra durante o dia e parece que eu tenho alguma doença estranha e grave nos olhos: elenãogostademim.
Quando todo mundo ao meu redor é mais novo do que eu: elenãogostademim.
Quando queimo a língua porque tenho pressa e não sei esperar antes de beber líquidos quentes: elenãogostademim.
Quando passo o dia de pijama e casaco: elenãogostademim.
Quando vou dormir de calça xadrez, camiseta do Pateta e meias listradas: elenãogostademim.

elenãogostademim.elenãogostademim.elenãogostademim.elenãogostademim.

Tá bom? Em todos os momentos. Pensamento bem forte. Reforçando o mantra com uma dancinha mental enquanto dentro da minha cabeça eu tô cantando u can't touch it.

Rá. Tô madura.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Vou lá medir minha pressão pro exame médico periódico da empresa. Minha pressão normalmente é baixa. Mesmo que eu tenha corrido antes ou feito polichinelos, sei lá, ela tá sempre baixa. Ela é baixa. Coisa de quem não tem muita emoção mesmo.


Daí vou lá medir e minha pressão está 9/6, que é mais ou menos o normal dela mesmo.

Ô, coração, você tá desistindo de bater, é isso? Resolveu largar de mão? Não tá mais valendo a pena?

E se eu prometer te dar mais emoções?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Daí você - no caso, eu - tá lá, lendo um livro que tem "love" no título. E alguém repara no título.

E você tem que ajeitar os óculos e dizer:
-Hm, na verdade, é um livro sobre loucura, obsessão e sobre como o amor não resiste a tudo.

Essa sou eu. Esse é o meu jeitinho.



é mentira que eu tenha ajeitado os óculos porque só preciso de óculos pra longe, não pra ler. mas achei que combinava com a cena.
...
o livro que eu estava lendo se chama Enduring Love, do Ian McEwan. no Brasil, o título é Amor sem Fim. existe um filme baseado nele, chamado Amor para Sempre, mas eu não vi. gostei do livro, mas meu preferido do Ian McEwan - que é um dos meus autores favoritos - ainda é Reparação, seguido de perto por O Jardim de Cimento.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Daí você é uma adulta, tem quase 30 anos, paga todas as suas contas (em dia!), toma vodca pura, leva seu trabalho a sério, tem vários acessórios e não gasta só com calça jeans, viaja sozinha, sabe ficar sozinha, toma suas próprias decisões (depois de perguntar a opinião de todas as amigas), vai à terapia toda semana sem falta, agenda massagens depois de uma semana ruim, e faz mais ou menos tudo isso que (dizem que) os adultos fazem.


Mas um dia você acorda e tem 15 anos de novo e nem se importa se já era ridículo fazer isso aos 15 anos, imagina agora aos 28; você acorda decidida a repetir o mantra "elenãogostademim.elenãogostademim.elenãogostademim" tantas vezes quanto forem necessárias para entender. Até esquecer.


Nada é melhor do que ouvir Alanis quando a gente acorda adolescente.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quando bebo, minhas orelhas ficam vermelhas e quentes.


Apenas mais um toque de ridículo na minha vida.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Não é fácil. Tem dias em que eu chego lá pensando que não tenho nada a dizer. Mas sempre há algo a dizer. Eu quero ser melhor, é isso que eu quero. Eu podia ter escolhido mil coisas, mas eu escolhi a análise e eu vou até o fim pra ver no que dá.


Então, toda terça às 11:30 eu sento na poltrona preta, coloco a almofada no meu colo e falo sobre a minha semana, sobre o que eu estou sentindo, sobre a minha família, sobre meus amigos, sobre o meu trabalho. Não vou dizer que toda terça eu abro meu coração porque seria mentira. Não é o coração que eu abro. Primeiro porque tem dias em que eu não abro, eu fecho o coração. Segundo porque não é sentimento. É razão, é lógica, é causa e consequência. É razão. Eu vou lá pra entender o sentimento.

Daí eu sento lá e às vezes a porrada vem logo na primeira pergunta.
-E a sua mãe?

E eu não quero falar disso. Eu não quero falar da minha família. Eu não quero falar dos meus amigos. Não quero falar dos amores que eu perdi. Eu quero ficar aqui sentadinha, falando sobre as minhas músicas preferidas, sei lá. Falando sobre a cor da parede do meu quarto. Mas eu tô aqui pra isso. Eu vim aqui pra isso. Não posso fugir.

-Onde estão os seus planos? Quais são os seus sonhos? Você não tem?

E aceito que aquela sessão vai doer mais do que tudo, vai me fazer chorar quando ela perguntar "por que você está quase chorando?", vai me destruir um pouquinho, vai me deixar triste e pensativa o dia todo, vai me fazer balançar a cabeça sem querer aceitar o que ela tá dizendo.

E saio de lá bem pequena, minúscula, com o coração todo encolhido de medo do que viu. Mas não tem outro jeito.

Pra mim, não tem outro jeito. Não dá pra construir por cima. Não dá. Vai ficar um remendo feio. Todo mundo vai notar que não era pra ser assim. Eu vou saber. Dói, mas é preciso destruir para reconstruir.

E nada - nada - é tão bom quanto entender. Nada.

"toma um lencinho. toma dois lencinhos."

domingo, 29 de maio de 2011

o outro lado

Até agora você só havia debatido a relação com amigas. E amigas são fofas até pra matar sua esperança. Amigas são fofas. E às vezes dizem o que você quer ouvir. Às vezes dizem o que você não quer ouvir, mas de um jeito tão fofinho que fica até parecido com o que você quer ouvir.


Até que você resolve conversar com um amigo e ele interrompe sua história e diz:
-Nossa, mas esse cara não gosta mesmo de você, hein?

E você fica ali, com aquela cara de tonta. Quem sabe não é isso mesmo, né?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

"O sistema se recuperou de um erro grave."


Ah, foi? É mesmo? Pobre sistema, não é? Posso ouvir todo mundo dizendo "É nisso que dá não usar Ubuntu. Eu te avisei que ia dar em erro grave."

Pois fiquem todos vocês sabendo que o sistema se recuperou de um erro que ele mesmo causou. O sistema deveria assumir sua responsabilidade nisso e me pedir desculpa. Foi a minha vida que ele travou e fui eu que tive que reiniciar tudo, torcendo pra que nem tudo estivesse perdido.

O sistema pelo menos se recuperou. E eu, que nem isso? E eu, que continuo insistindo no erro grave sem saber quando vou me recuperar?

Ah, oops, desculpa a reação exagerada, Windows. Eu não tava mais falando de computador. He.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A aula era sobre problemas de adolescentes e é claro que as meninas começaram a falar de meninos. Até que uma delas, a mais falante, me perguntou como se diz "desistir" em Inglês. Eu respondi e ela disse, num Inglês todo bonitinho:


-Eu desisti do amor.

Doze anos. Tá bom? Doze anos. Sente o drama.

-Desisti mesmo. Desisti do amor.

Vontade de dar um abracinho e dizer que a gente nunca desiste. O pior é isso. Ou melhor, né? Nós tentamos. A gente tenta até se cansar, até fazer papel de idiota, até não fazer mais sentido. A gente tenta de várias maneiras, de todas as maneiras que a gente sabe.

Mas desistir a gente não desiste, Ana Clara. Não adianta.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Depois de quatro chopps e uma caipirinha de saquê que o garçom amigo dela escolheu pra mim, eu saí de lá com ela me dizendo "O importante é o amor! Eu acredito no amor! Viva o amor!"


Eu não acredito em amor, mas é bom conviver com quem acredita.

<3

Daí que a coisa de mudar nomes de ex na agenda chegou a um ponto em que eu sonho com isso.


No sonho, meu telefone tocava e o nome que aparecia era "IRÔNICO". Eu não atendia. Depois ficava super tensa. Ai, meudeus, por que o nome dele na agenda é IRÔNICO? Ele é irônico demais? É a pessoa certa no momento errado? A pessoa errada no momento certo? O que é irônico?

E aí você pensa que no sonho o sistema funcionava, né? Que eu pensava que ah, ok, vou deixar pra lá. Ele é irônico.

Mas, he, no sonho tudo o que eu queria era ligar só pra conferir o que é que ele tinha de tão irônico.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Eu adoro os textos da Luiza Trindade e este foi como um tapa na cara de todas as desculpas e explicações que eu uso. Ou tento usar.


Porque é exatamente assim.

NÃO! NÃO! NÃO!

NÃO!

NÃO.

Não.

Não, né?

Hm, não.

Talvez.

Por que não?

Ah, sim, né?

Sim-sim-sim-sim-sim!

E quando chego nessa parte, já tenho milhões de explicações racionais, já tenho dezenas de cartas de tarot pra me justificar. Já pensei, pensei, pensei. Falei, falei, falei. Me convenci. Convenci todo mundo.

E, no fundo, a única explicação é: porque eu gosto. porque eu quero. porque sim.

Daí chega o dia da terapia e você tem que explicar como se sente. Só que é tanta coisa que você não consegue. Não dá pra explicar. Não sai nada. Nem uma palavra.


E você apela para a mímica e um suspiro.

-Tô assim, ó.

E embola uma mão na outra.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Simplifiquei as coisas quando passei a dizer que sou complicada.


Sabe assim?

-Mas por quê?
-Sou complicada.
-Ah, tá.

Muito mais simples.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Às vezes o ato falho tá tão na cara, mas tão na cara que a vontade é de dar meia volta e ir até lá explicar que, não, eu não quis dizer aquilo, não fica achando que eu não entendi a situação, não fica pensando que...


Mas, assim, já foi, né? O ato foi falho e não tem como corrigir.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

"Invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou."

E depois fico toda desconcertada na terapia tentando explicar por quê.

o blogger.com ficou fora do ar durante algumas horas entre ontem e hoje e perdeu alguns posts. este foi um deles, agora republicado.

domingo, 8 de maio de 2011

Acordei e fui logo dar o presente da minha mãe, antes que o céu fechasse e raios caíssem na minha cabeça. Imagina se eu resolvo, sei lá, me alimentar antes de entregar esse presente, né?

Quem é filha da minha mãe tem medo. Daí corri até a cozinha ainda de pijama (hehe, vamos fingir que depois desse momento eu coloquei uma roupa decente e não troquei um pijama por outro pijama) e fui entregar o presente, já naquele medo. Olha, se não gostou, pode trocar, não sei se você prefere um relógio igual ao meu, você disse que tinha gostado e, bom, tá aqui o presente.

-Feliz dia das mães!

Daí quando entreguei o presente, me toquei que o cartão não tava dentro da sacolinha. Tentei salvar a situação.
-Você é a melhor mãe do mundo!
-Ai, acho que sou mesmo. Seu irmão já me falou isso hoje e até a Hannah.

Até a Hannah.
Eu disse? O que foi que eu disse?

Depois de um certo tempo na vida de single lady, depois de algumas histórias que acabaram sem nem ter começado, dá pra ficar com algumas lembranças.


Você vai ao cinema e "ah, puxa, foi aqui o meu primeiro encontro com aquele menino confuso." Você vai ao bar das comidinhas gostosas em potinhos e "ah, puxa, foi aqui meu primeiro encontro com o nip/tuck."
Você vai ao restaurante japonês e "ah, puxa, foi aqui meu primeiro encontro com aquele menino que usava umas roupas engraçadas."

Depois de muito tempo na vida de single lady, você não pode mais ter esse luxo de ter lembranças.

Você vai ao cinema e "ah, puxa, foi aqui o meu primeiro encontro com aquele menino confuso. e também com aquele que se achava muito diferente. ah, e também com aquele que disse que não gostava de cachorros."

O melhor é entrar pra ver o filme de uma vez, que tá quase na hora da sessão.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Só porque às vezes dá vontade de explicar.


Que, cara, não é nada com você. É que tanta coisa aconteceu antes de você. Não é você, não se sinta mal. Não é você. Sou eu. De verdade. Sou eu e tudo que aconteceu antes de você. E agora deu nisso.

Então, sério, não leve a mal, não se sinta mal. Eu tô aqui chorando por uma bobagem qualquer que você fez, mas, olha, não é um problema que você tenha feito isso. Você não é uma pessoa ruim por causa disso. Foi uma bobagem. E normalmente nem é motivo de choro. Uma bobagem de verdade.

O problema é que já fizeram tanta bobagem antes de você. Eu fiz tanta bobagem antes de você, que a sua bobagem me faz chorar. Mas, assim, não é você.

Sou eu.

E tudo que aconteceu antes.

Não liga, não.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Hoje minha mãe chegou no trabalho e tinha um presente na mesa dela.


No cartão, estava escrito: "Para Rutinha, de um fã."

Um fã.

Um fã.

Um fã.

Vocês conseguem imaginar o quanto ela está insuportável?

"Eu sou mesmo muito querida. As pessoas gostam muito de mim."

Ouvirei sobre isso durante semanas.

Valeu, hein, fã da minha mãe?

sábado, 30 de abril de 2011

ela é sinistra

A minha mãe é leonina. Isso pode não dizer nada pra você, então vou explicar. O mundo gira ao redor da minha mãe. Não tô dizendo que isso é o que ela acha, não. Tô dizendo que é a verdade. O mundo gira ao redor dos leoninos. Nós que não somos leoninos somos meros figurantes.


Sou filha da minha mãe há 28 anos, já me acostumei com a ideia de tudo ter a ver com ela.

-Mãe, não quero ir a essa festa chata de família.
-Minha filha! Como você pode fazer isso comigo? O que as pessoas vão falar de mim? O que eu fiz pra merecer isso?

Você entendeu, né?

Então.

Daí essa semana meu irmão veio me contar que mamãe trocou o fogão que fica no terraço aqui de casa. O fogão de lá tinha 4 bocas. Minha mãe trocou por um de 6 bocas.

A explicação:

-Eu cozinho rápido demais. Um fogão de 4 bocas não consegue me acompanhar. É fraco.

Não consegue acompanhar.

É fraco.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

E tem aquelas vezes em que eu como tanto que engordo e fico com uma barriga que não reconheço como minha. Eu olho e vejo uma coisinha que foi anexada ao meu corpo. De onde surgiu? Para onde vai?

Sendo eu a pessoa que eu sou, é claro que não consigo admitir que a culpa é minha. Que excedi o limite aceitável de calorias. Que comi demais. Que tomei chopps além da conta. Lembra de tomar sorvete no lanche, Renata? Ih, não lembro.

É claro que sendo eu a pessoa que eu sou, eu penso que só posso estar grávida. Mesmo quando essa possibilidade não existe. Eu sempre acho que estou grávida.

E funcionando a minha mente da forma como ela funciona, toda uma história começa a se desenhar dentro dela. O que eu faço agora? Levo a gravidez adiante? Como vou criar essa criança? Onde vou colocar o berço? Conto para o pai? Não, não conto. Aí, um dia, já com muitos meses de gravidez (porque eu tenho certeza que vou ficar pelo menos 15 meses grávida, que tudo comigo é no exagero), vou encontrar o pai da criança, assim por acaso. Daí me imagino, muito digna, dizendo "não, o filho não é seu. é só meu." E uma lágrima cai.

Porque eu vivo dentro de uma novela, né? Eu me esforço pra viver dentro de uma novela.


mãe, eu sei que você resolveu ler o blog há pouco tempo, embora você soubesse da existência dele desde sempre. bom, mas então queria esclarecer pra você e papai que eu só poderia ficar grávida do espírito santo, tá? pra honrar a educação católica que vocês me deram. tô indo ali rezar o terço. um beijo.

domingo, 24 de abril de 2011

Eu não costumava contar para as pessoas. Porque demorou muito até eu entender o que era depressão e isso tudo. Então eu não costumava contar para as pessoas porque nem eu sabia.


A minha vida toda, até a hora em que eu ouvi minha analista dizendo "você tem depressão, você tem que aprender a viver assim", eu achava que era dramática.

Mas, né? Para nenhuma adolescente, por mais dramática que seja, é normal chorar no chão da cozinha porque não tem forças pra levantar e chegar até o quarto.

Daí eu só entendi há alguns anos e nunca soube direito como agir. Eu devo falar de cara, quando conheço alguém, pra preparar a pessoa? "Oi, eu sou a Renata, sou professora de Inglês, eu legendo filmes e também sou depressiva, e você?" Espero um dia ruim chegar pra explicar que, olha, não é por nada, nem é falta de educação, eu não tô a fim de conversar porque tô mais a fim de chorar? Nunca sei como tocar no assunto. Ou mesmo se devo tocar ou não. Porque não é desculpa, eu não quero usar como desculpa. Eu só quero explicar mesmo.

Mas essa hora sempre chega. E não importa o que eu tenha decidido fazer. Se eu não falei nada. Se eu falei em forma de piadinha. Se eu falei sério. Se eu falei como quem não quer nada. A hora de contar por que eu não retornei a ligação, por que eu demorei tanto pra responder o e-mail, por que eu tô com essa cara e não dei um sorriso. Essa hora sempre chega.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Daí chegam os dias ruins e você tem que se dividir entre chorar por 37 motivos diferentes, mandar e-mail pros amigos especificando cada um desses motivos, definir se é depressão, coração partido, tristezinha ou tpm.


Não é fácil, viu?

terça-feira, 19 de abril de 2011

-Você não acredita em amor à primeira vista?

-Eu não acredito em amor. É claro que eu acredito em amor à primeira vista. É o único tipo de amor em que eu acredito.

domingo, 17 de abril de 2011

Tudo seria muito mais fácil se a gente vivesse dentro de um filme. Bastaria dizer um pro outro: "Vamos nos encontrar no topo do Empire State daqui a um mês."


Daí a gente teria um mês pra pensar, fazer uma listinha de prós e contras e decidir se ia ao encontro ou não.

E tudo estaria resolvido.

Nada dessa batalha diária, dessa necessidade de fazer curso pra mandar sms, desse "aimm, será que ele gosta de mim?"

Tudo seria muito mais simples se a gente só tivesse que marcar um X.

Ele tá no topo do Empire State me esperando?
( ) Sim.
( ) Não.

Existe um limite pra ser babaca.


Uma pessoa só pode ser babaca até um certo ponto. Passando desse ponto, é você que começa a ser otária mesmo.

(serve pra tudo)

sábado, 16 de abril de 2011

Eu tenho assim uns vários amigos gays. De infância, adquiridos depois, tenho uns vários. Não tenho nem o que falar sobre eles serem gays porque não tem nada neles que os torne diferentes. É tudo igual.


E, pra mim, sempre foi igual. Até que um amigo pediu uma sugestão pra comemorar o aniversário dele e disse "que seja gay friendly, por favor. não quero tomar coió."

Parece estúpido, eu já era adulta e tudo, mas eu não tinha me tocado até aquele momento que meus amigos podiam ser agredidos por serem eles. Meus amigos.

É claro que eu sempre soube que existem pessoas que não gostam de gays. Mas acho que eu nunca tinha me tocado que os agressores podiam estar tão perto.

E, sabe, tento pensar numa coisa mais injusta do que odiar alguém por algo que ela não escolheu e não consigo achar nada. Odiar uma pessoa por uma coisa que nem te diz respeito. Que nem muda a sua vida. Odiar os meus amigos. Não pode.

Então, assim, não faz diferença se você gosta de pessoas do mesmo sexo ou não: meus amigos são gays, eu sou gay, todo mundo é gay. E se isso faz diferença na sua vida, tem alguma coisa errada com você.
...
O projeto #EuSouGay pede que todos enviem fotos com um papel onde esteja escrito #EuSouGay pro e-mail projetoeusougay@gmail.com

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Às vezes tenho que me perguntar: que pressa é essa?


Quando quero falar 108 palavras por minuto. Quando o coração bate mais rápido. Quando as mãos têm que segurar uma caneta ou apertar os dedos. Quando tem que ser e tem que ser agora e não pode ser depois porque depois não dá mais então tem que ser agora.

Que pressa é essa?

"I've exploded into your life, just as you have exploded into mine."*

Você finalmente resolve escrever e desenhar no caderno que comprou há três anos e nunca usou porque não queria escrever só coisas tristes e não conseguia pensar ou sentir coisas não-tristes pra escrever e coisa e tal.

Você abre o caderno, desenha um balão vermelho na primeira página, escreve um trecho de um livro que você tá lendo.

No caderno que você comprou há três anos e nunca usou porque não queria encher de tristeza.

E lá no meio dele, no meio de todas aquelas páginas em branco, você encontra uma carta de amor.

:(

"Voilà, that's it!"

:)


*Jed Parry para Joe Rose em Enduring Love, de Ian McEwan.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Mal entro na sala e ela tá lá. Nerdzinha, de óculos, falando muito rápido.


-Teacher, a prova tá difícil?
-Hmm, depois que você fizer, você me diz o que achou, tá?
-Teacher, eu vou tirar 10!
-Ah, vai?
-Vou! Você sabe, né, teacher? Eu sou muito inteligente. Eu sempre tiro 10.
-Olha, mas que convencida! hahaha.
-Você sabe que eu tô falando a verdade, né? Eu não sou muito inteligente, teacher?
-É, sim.
-Então. Eu sou mesmo muito inteligente, você sabe.

E as gargalhadas.

Ela tá lá. Eu, aos onze anos. (menos as gargalhadas, que eu lembro que era bem séria nessa idade)

Uma das coisas mais legais de ser professora é conhecer tanta gente, tanta gente igual e diferente.

mais uma

Se essa história de me relacionar com meninos me ensinou mais uma coisa foi: sabe quando você tá lá, toda orgulhosa de si mesma porque conseguiu colocar um ponto final na história?

...
Só quem já levou pé na bunda sabe como isso é um chute na autoestima e sabe o orgulho que a gente sente quando consegue encerrar uma história com dignidade. Mesmo que a dignidade esteja só na sua cabeça porque já se perdeu há muito tempo.

Faz toda a diferença colocar você mesma o ponto final na história.
...
Bom, aí. Aí que você colocou o ponto final na história. Jurou pra si mesma que nunca mais, que não vale a pena, que você merece mais. Você tá lá, toda orgulhosa de si mesma. Parabéns! Agora ele vai ver o que perdeu.

Mas, olha, o que eu aprendi com essa história de me relacionar com meninos é que você tá aí, toda orgulhosa, se controlando pra não ligar, pensando "só por hoje" e ele não tá dando a mínima.

Ele não tá dando a mínima.

mas, força aí. se você acha que não pode ligar, deve ter um bom motivo.

domingo, 10 de abril de 2011

Todo mundo se vê de uma forma que nem sempre é a mesma de como as outras pessoas nos veem, né?

Eu, por exemplo, quando entro num lugar, acho que tô entrando com vento no meu cabelo, tô pisando bem forte de coturno e camiseta de caveira e o N.E.R.D tá no fundo cantando em coro she's bad bad badass.

Mas acho que minhas camisetas de caveira não tão fazendo bem o trabalho.

Porque de repente eu tenho que responder:
-Você era boa aluna no colégio, não era? Você tem a maior cara de que era boa aluna.

E, hum, eu era sim.

Mas agora, ó, agora eu sou muito durona. Cuidado comigo e... ¬¬

daquele tipo que ouve dos professores "queria ter uma filha igual a você."

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ah, acho que entendi!

Fofo é para as meninas o que exótica é para os meninos.

Os meninos nos chamam de exótica achando que estão elogiando, coitados. Eu até entendo a boa intenção e até entendo o que eles querem dizer com exótica.

Mas não dá, né? Exótica não dá.

Tudo que a gente quer é ser linda.

E os meninos, o que eles querem ser?


fui procurar posts em que eu falava sobre ser chamada de exótica pra colocar um link aqui e, nossa!, como tem post sobre isso. parece que passei a vida toda sendo chamada de exótica. oh, wait!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

-Ele é tão bonzinho.
-Ah, Renata, pelamordedeus, bonzinho não. Bonzinho não, né? Não me diz isso. Completa: ele é tão...
-Atencioso. Ele é tão atencioso.
-Ah, tá. Melhorou.

Eu sei que meninos não gostam de ser chamados de bonzinhos. Ou de fofos. Eu sei, já me disseram, eu entendi.

Mas eu não quero só dizer que é bonito. Não quero só dizer que é inteligente. Não quero só dizer que uau, fico arrepiada só de pensar. Nem quero só dizer que é engraçado e me faz rir.

Eu quero dizer que me faz ter vontade de andar de mãos dadas. Me faz ter vontade de encostar minha cabeça no ombro. Me faz sorrir fechando os olhos.

Eu quero dizer que faz o meu coração ficar quentinho.

Que palavra eu uso?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

É porque eu sei que ainda me falta superar muitas coisas na vida que eu também sei que já superei muitas outras.

A dor eu já superei, eu sei. Posso falar sobre isso, posso escrever, posso deixar pra lá. Não importa, não dói mais.

Mas o orgulho ferido. A lembrança de que foi a primeira vez que meu coração foi partido. Tudo que eu faço pra evitar que aconteça de novo.

Ainda não.

Um dia, espero.

One of these days the ground will drop out from beneath your feet
One of these days your heart will stop and play its final beat
One of these days the clocks will stop and time won't mean a thing

But it's alright
Yet it's alright
I said it's alright

Easy for you to say
Your heart has never been broken
Your pride has never been stolen
Not yet, not yet


Eu sou bem esse tipo de pessoa. Sabe assim? Digo uma coisa, daí depois fico pensando que a pessoa vai entender tudo errado. Penso, penso, penso que a pessoa vai entender errado. Penso, penso, penso. And I'm just a soul whose intentions are good. Oh, lord, please don't let me be misunderstood, né? Faça o que quiser comigo, mas não me entenda mal.

Daí não me aguento. Mando um e-mail no meio da madrugada só pra dizer "olha, sabe aquilo que eu te disse há uns dias? então, espero que você tenha entendido que eu quis dizer isso-isso e não aquilo-aquilo. Eu não sou maluca."

E-mail no meio da madrugada. Falando de uma coisa dita há dias. Eu não sou maluca.

Assim. Nem com muita boa vontade a pessoa acredita em mim, né?


a parte boa disso é saber que eu não sou a única. né, J.?

quinta-feira, 31 de março de 2011

Incluí uma informação sobre mim na descrição aí ao lado.

Foi por causa deste post da Lola.

Eu concordo. É preciso me assumir e não deixar que ninguém além de mim me defina.

:)
...
E pra cada um que me disser:
-Nossa, você é feminista? Olha, mas nem parece!

Eu me dou o direito de responder:
-É. Tipo você, que nem parecia babaca até agora.

Porque, se tem gente que acha bonito ser machista, eu acho bonito ser igual.

:)

terça-feira, 29 de março de 2011

Outro dia apareceu um bebê aqui em casa. Na minha família não tem mais criança. Agora somos todos adultos. Bom, alguns são adultos nesse meu jeitinho de ser adulta. Mas somos adultos.

Só que outro dia apareceu um bebê aqui. Minha prima mais nova trouxe a afilhada dela. Minha prima mais nova já tem uma afilhada. Vê aí que ela não é adulta no meu jeitinho de ser adulta.

Daí o bebê tava aqui, fazendo coisas fofas de bebê. Eu curto bebês. Gosto de pegar na mãozinha e me imaginar mordendo as pernas gordinhas deles. Gosto de ver como os pés são pequenininhos e acho engraçado ver como bebês têm a cabeça grande demais pro corpo e um barrigão. Hihihi, barriga de bebê. Mas não pego bebês no colo nem troco fralda nem dou comida. Nada dessas responsabilidades.

Bom, eu tava lá vendo o bebê fazendo coisas fofas de bebê e fui ficando meio desesperada porque o bebê não parava e ficava fazendo mil coisas e emitindo sons e meudeus, não para, não para!!

Aí eu disse pra minha tia:
-Olha, acho que nunca vou ter filhos.

Minha tia disse, pra você ver em que nível tá a confiança da minha família em mim, tá? Minha tia disse:
-Ahhh, mas nem uma produção independente?

Assim. Tia. Eu não tava falando disso.

domingo, 27 de março de 2011

Ficar aqui, sentada na minha cadeira nova, olhando o céu pela janela, lendo um livro que eu comecei há meses e parei porque tinha que escrever minha monografia da pós, comendo sanduíche de queijo branco no pão preto mais ou menos torrado e bolinhos de chocolate recheados com doce-de-leite e cobertos com brigadeiro.

Tudo que sempre esteve aqui.

Mas só quando se tem depressão e se descobre que o caos está aqui dentro é que se descobre que a paz também pode estar.

:)



I dig in this ocean and I try to fill it with gold
Fill it to the top, fill it to the top, fill it to the top

Do you look for hope in other people's eyes
?
Well, that may be your worst redemption

sábado, 26 de março de 2011

Um amigo meu começou a usar lentes de contato há pouco tempo. Eu uso lentes há vários anos. Nem me defino mais como pessoa de óculos. Se alguém me pergunta se eu uso óculos, digo que não. Só depois corrijo "ah, é que eu uso lente."

Daí meu amigo que começou a usar lentes de contato há pouco tempo tava perguntando umas coisas sobre cuidados com as lentes.

-Ah, não sou de muita frescura com a lente, não. E só tive problema uma vez, quando deu fungo numa lente.
-Deu fungo? Como você descobriu?
-Uma cartomante me disse.
-O.o
-É, durante a consulta ela ficou repetindo que via um problema nos meus olhos, falou umas três vezes, até que disse "Você usa lente? Pode ser fungo, hein?" E uma semana depois eu vi uma manchinha branca na lente.

Porque já faz um tempo que eu deixei de fazer sentido.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Tem uma coisa que eu invejo nas pessoas. Bom, tem muitas coisas que eu invejo nas pessoas. Tipo muito dinheiro e paciência com pessoas solitárias que falam comigo na rua.

Mas o que eu invejo mesmo é a capacidade que algumas pessoas têm que abrir o coraçãozinho. De não ter vergonha nenhuma de se mostrar vulnerável. A coragem de dizer pra alguém "eu gosto de você" sem ficar pensando em como a pessoa pode usar isso contra mim.

Invejo muito.

terça-feira, 22 de março de 2011

Foi-se o tempo em que eu chorava em público e alguém vinha me acudir perguntando se tava tudo bem e se eu precisava de alguma coisa.

Foi-se o tempo.

Agora choro em público, fico com os olhos vermelhos e inchados, um pouco desorientada e tenho que escutar:

-O que é isso, garota? Tá drogada?

sábado, 19 de março de 2011

outra coisa

Se essa história de me relacionar com meninos me ensinou outra coisa foi a acreditar quando eles dizem que não valem a pena.

Se ele diz que está confuso, acredite.
Se ele diz que não seria um bom namorado, acredite.
Se ele diz que precisa de um tempo, acredite.
Se ele diz que você é boa demais pra ele, acredite.
Se ele diz que não merece o que você sente por ele, acredite.

Costuma ser verdade.

Mas não faz como eu, hein? Porque não adianta nada acreditar só na teoria. Acredita e põe em prática. Manda um beijinho pelo ar, dá uma piscadinha e sai daí.

Depois você pode passar o dia inteiro cantando Fuck You. Cee-Lo e eu autorizamos.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Se essa história de me relacionar com meninos me ensinou alguma coisa foi: se você não quer contar pros seus amigos que ficou com ele (de novo), tem alguma coisa errada aí.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nós estávamos jantando e sobrou muita comida. Eu disse:
-Pede pra embrulharem e leva pra casa. Vai que você sente fome de madrugada, daí já tem o que comer.

Ele podia ter me achado legal, né? Podia ter curtido a minha preocupação com o bem-estar dele.

Mas, em vez disso ele disse:
-Não é bem isso que eu quero comer de madrugada.

Mais uma da série Piores coisas que eu já ouvi num encontro.
...
Nessa eu também ri HAHAHAHAHAHA.
...
Ele não levou uma quentinha pra casa. Uma pena, porque a comida estava deliciosa. Então, sei lá, se ele acordou de madrugada deve ter comido um misto-quente ou alguma coisa assim.

segunda-feira, 14 de março de 2011

coisas com as quais eu não queria ter que lidar

Um dia descobri que todo o crédito que eu tinha no cartão refeição tinha sumido. Su-mi-do. O dinheiro que tinha dentro do cartão fez puff! e sumiu.

Quando eu olho pra minha vida, eu tenho certeza que não mereço isso. E eu sou bem realista, hein? Eu admito que mereço muitas coisas terríveis que acontecem comigo. Tipo, eu mereço ficar com o pé todo machucado porque insisto em usar um sapato assassino. Eu mereço e sei disso. Quando eu calço o sapato, eu já tô pensando que mereço a dor que vou sentir depois. Eu mereço não ter namorado porque tô aí, perguntando "mas o que é o feminino?" ou rindo na cara dos meninos quando eles confessam coisas constrangedoras a respeito deles. Eu sei que mereço.

Mas tenho certeza que esse outro tipo de problema eu não mereço ter. Tenho certeza que não mereço ter que ligar pro atendimento ao consumidor pra reclamar de dinheiro que sumiu no meu tíquete refeição. Veja bem. Tíquete refeição. Que tipo de problema, hein? Pior que isso só se eu tivesse que lidar com um ralo entupido, sei lá.

Daí que eu tenho certeza que mereço outra vida. Não mereço ter que ligar e reclamar meus tostões. Mereço ficar aqui, coberta de seda, tomando champanhe e dando gargalhadas de pessoa louca e rica.

Tava pensando nisso quando minha mãe disse:
-Renata, para de palhaçada. Liga logo e resolve isso.

E lá fui eu, ser classe-média-trabalhadora-de-carteira-assinada.


eu quero ver se você ouvisse minha mãe dizer "para de palhaçada", naquele tom que é só dela. quero ver se você também não ia correr para as montanhas.