terça-feira, 27 de agosto de 2013

Uma vez um namorado resolveu terminar comigo no meio da madrugada. Os dois prontos pra dormir. Eu tava pronta pra dormir, com certeza. Pronta pra levar um pé na bunda eu garanto que não estava.

Daí ele terminou comigo no meio da madrugada. E chorouchorouchorou. E eu choreichoreichorei.

Eu quis ser legal. Abracei, falei "que isso, garotão. a gente pode ser amigo. imagina, a gente já viveu tanta coisa. vai ficar tudo bem, eu não tô zangada."

Depois de duas horas que passei consolando a pessoa que chorava de soluçar, eu também chorando, ele disse "deixa pra lá, eu estava errado. te amo, não quero terminar. vamos dormir."

Terminamos dois anos depois, por e-mail.


Faz tanto tempo, já contei essa história tantas vezes que já não sei mais qual é a história.

Às vezes a gente só entende o presente quando ele já é passado. Às vezes a gente nunca entende, porque a história muda sem que a gente perceba.

domingo, 25 de agosto de 2013

No dia seguinte:
-Você tava sensualizando com o fulano?
-Tava, claro.
-E com o beltrano?
-Não, tava só sendo simpática.

Trinta anos e ainda tenho que explicar onde está a mira.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Entrei no restaurante já quase passando da hora do almoço. Daí sentei e veio o garçom. Eu vi a mão dele meio levantada, segurei, apertei e disse "oi, tudo bem?"

Foi aí que eu senti o paninho que ele tinha na mão.

Ele não queria nada além de limpar a mesa.

domingo, 18 de agosto de 2013

Pessoas obsessivas nunca deveriam se apaixonar.

Se o mundo fosse justo, nós seríamos incapazes de.




esse vídeo é mais um oferecimento do tumblr da hunnybunny.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Eu trabalho longe de casa. Para ir ao trabalho, pego dois ônibus porque, por mais que pareça inacreditável, é a opção mais confortável pra mim. Um dos ônibus que eu pego é do tipo executivo, então eu vou dormindo e volto lendo na minha poltroninha reclinada.

Quando você entra num ônibus de manhã cedo o que você faz? Silêncio, é claro. Se não faz, é o que você deveria fazer.

Daí que eu pego o ônibus sempre no mesmo horário com as mesmas pessoas. Tenho uma lista mental de passageiros que merecem estar no ônibus e passageiros que mereciam ir correndo atrás dele, porque não sabem se comportar.

Por exemplo, todos sabem que o braço entre os bancos é apenas um braço divisor, ele não deve ser usado para apoiar nenhuma parte do seu corpo. Quem não sabe merece ir correndo atrás do ônibus.

Há umas semanas surgiu uma passageira que rapidamente se transformou na minha arqui-inimiga. Na primeira vez que nós nos vimos, nós duas estávamos na fila, ela comendo um cachorro-quente na minha frente e conversando com a pessoa atrás de mim.
-Eu estou fazendo uma dieta que a minha nutricionista passou e ela funciona assim: eu como tudo o que eu quiser até ficar satisfeita e jogo fora o que sobrar.

Nossa, arqui-inimiga, a sua nutricionista deve ser tão esperta quanto você.

Na segunda vez que nós nos vimos, ela sentou em cima de uma outra passageira. Quando a pessoa reclamou, minha arqui-inimiga disse num tom debochado "ai, desculpa!" e passou o resto da viagem falando sozinha, "nossa, brigar por causa de lugar, era só o que faltava." Ela havia sentado em cima da pessoa.

Foi aí que ela virou minha arqui-inimiga. Bem aí. Um pouco depois que a mãe dela desligou o telefone na cara dela enquanto ela contava essa história do jeito dela. Sim, arqui-inimiga, eu sei que a sua mãe desligou na sua cara, porque você estava falando muito alto e eu ouvi toda a conversa.

Hoje eu peguei ônibus com ela sentada bem atrás de mim. A primeira coisa que ela faz quando o ônibus sai é ligar para alguém. Eu não sei que tipo de pessoa tem o que dizer durante uma hora às 8h, só sei que é um tipo que eu quero bem longe de mim.

Ela estava já na segunda ligação falando as mesmas loucuras que já tinha falado na primeira ligação do dia:
-Aí eu cheguei pra minha chefe e perguntei se tinha alguma coisa pra fazer. Ela disse "isso é uma afirmação ou uma pergunta?" e quando ela disse afirmação, ela queria dizer intimação. Ela tá muito noia, perdeu o controle.

E foi quando aconteceu um momento lindo de união e as pessoas começaram a fazer SSSHHHIIIIUUU. SSHHIIUU. SHHHIIUUU.

Minha arqui-inimiga (agora de todos nós) desligou o celular e conseguimos dormir na segunda metade do caminho.

Só de lembrar eu fico emocionada.

domingo, 11 de agosto de 2013

Aqueles eventos que reúnem um monte de gente que estudou com você e você sai de casa preparada pra passar algumas horas respondendo "e o namorado?" e ver as pessoas agindo como se você não tivesse um emprego e uma vida. Todas as roupas que você experimentou te fizeram parecer infeliz e fracassada. Você não podia ter tentado um vestido? Todo mundo de vestido não parece mais feliz? [não, nem sempre, mas ok] E mesmo assim você escolheu ir de parka.

Um suspiro e vamos.

Mas lá (quase) todo mundo tem assunto. Então a gente fala sobre os nossos empregos. Tem um bebê também e a gente brinca com ele sem que uma diga pra outra "tá treinando?" A gente fala sobre nossos planos de casa nova, sobre comprar uma casa sozinha ou alugar. Sobre financiamento. A gente fala sobre o carro que uma de nós negociou, comprou e pagou sozinha. Menos cinco mil do preço final e tapetes de brinde. A gente pede o currículo uma da outra, porque abriu uma vaga no meu departamento. Cada vez mais parecidas com as nossas mães, de uma maneira estranha. A gente fala sobre nossos fios brancos, o que você tá fazendo pra esconder? E todo mundo tá arrancando por enquanto mesmo, apesar do medo de ficar careca ou de arrancar um e nascerem dois. A gente fala sobre como nosso metabolismo está mudando e a gente pode sentir isso e de como nenhuma de nós pode viver sem uma atividade física. A gente compartilha ali mesmo pelo celular nossa planilha de planejamento financeiro. Pra onde vocês vão nas próximas férias?

Às vezes um abraço não precisa ser um abraço de verdade. Um abraço no meio de um mundo cheio de "mas você sabe que óvulo envelhece, né?" As tias desesperadas. As casadas consoladoras. As grávidas incentivadoras. "Você vai achar alguém." A mãe que não fala disso porque acha que você é do contra e a melhor maneira de fazer com que você tenha filhos é fingindo que a sua decisão de não ter é a sua decisão de não ter e ela acha ok você decidir nunca ter filhos, então ela não fala disso, porque se ela mostrar que acha que você deve ter filhos aí é que você nunca vai querer mesmo e ela nunca terá netos. A mãe, eu poderia ter parado aí. Um mundo de gente esperando, te consolando, torcendo. Ninguém pergunta o que você quer.

E de repente ali, um abraço.

Eu tenho essa mania de escrever mil posts de uma vez e ir publicando aos poucos. Muitos posts só são publicados quando não é nem mais o que eu sinto porque assim eles não vão doer com nenhum comentário. =)

O problema é que o blog sempre acaba chegando numa fase em que ainda estou falando sobre uma coisa que já passou, ao mesmo tempo em que escrevo posts sobre as coisas que estão acontecendo, mas não sei quando serão publicados.

=)

Enfim, nem sempre fica claro, mas o blog às vezes chega a ter um atraso de meses.

um beijo,

:*

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Eu já sabia.

Eu soube quando você bloqueou sua página para comentários.
Eu soube pela sua escolha de restaurantes. E pelo lugar onde você sentava neles.
Eu soube quando você disse que tinha que trabalhar.
Eu soube quando você disse que tinha um almoço em família.
Eu soube quando você disse que ia andar de bicicleta com seus amigos. Haha.
Eu soube quando ouvi a sua voz no meu aniversário. Foi a primeira vez que você acertou o dia. Constrangimento tem voz? Culpa tem voz? Pena tem voz?
Eu soube quando vi as fotos. Eu vi as fotos. Você me deixou ver as fotos.

Eu soube tantas vezes e de tantas formas que acho inacreditável que você tenha pensado que precisava me contar.

domingo, 4 de agosto de 2013

Primeiro a caixa da padaria me devolveu uma moeda que eu entreguei pra pagar o pão. Eu estava comprando dois tipos de pão, entreguei o dinheiro trocadinho, muito orgulhosa de mim mesma por ter dinheiro trocado. Aí a caixa da padaria devolveu a minha moeda.


Eu não entendi nada, entreguei a moeda de volta. Ela me devolveu. Entreguei de volta. Me devolveu, entreguei de volta. Eu quase chorando. Não é possível, 50 centavos, o que eu estou fazendo de errado? Até que ela fez uma cara muito feia e disse "essa moeda não é do Brasil." Daí eu olhei pra moeda e vi que tava tentando usar 50 centavos de euro pra pagar meus dois tipos de pão. Como a moeda foi parar na minha carteira, nem ideia.

Da padaria eu fui ao supermercado e na seção de temperos vi uma coisa que dizia "canja em pó", pensei que não fazia muito sentido. Canja em pó nem existe, não pode ser isso. E então reli e estava escrito "GANJA em pó", fiquei olhando pros lados, tipo, pode isso? Se eu comprar, a polícia vai me prender? Será um disfarce? Mas aí eu li de novo e vi que era "canela em pó". Canela em pó.

Hoje eu vou dormir torcendo pra acordar mais esperta amanhã.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A pessoa furou a fila. Não me incomodei e nem ia falar nada. Sexta-feira à noite. Às vezes as pessoas precisam de pequenas vitórias. Ser a primeira a entrar no ônibus. Deixar a pessoa que fura fila se achar muito malandra. Cada uma de nós com sua pequena vitória numa semana que termina. Eu ia ficar na minha.

Até que ela me chamou de "senhora". Eu estava lendo um livro, caiu um papel de dentro dele no chão. Ela tocou em mim e disse "senhora, caiu uma coisa sua."

Eu não agradeci, mas dei um sorriso.

-Olha, o final da fila não é aqui. Você não pode ficar aqui, não.

"Aproveita e vai lá ver se no fim da fila tem alguma senhora, porque aqui na frente só tem jovem." Mentira, isso eu não disse. Eu só voltei pro meu livro.

Ficamos as duas com nossas batalhas perdidas, então, e não falamos mais disso.