sábado, 30 de abril de 2011

ela é sinistra

A minha mãe é leonina. Isso pode não dizer nada pra você, então vou explicar. O mundo gira ao redor da minha mãe. Não tô dizendo que isso é o que ela acha, não. Tô dizendo que é a verdade. O mundo gira ao redor dos leoninos. Nós que não somos leoninos somos meros figurantes.


Sou filha da minha mãe há 28 anos, já me acostumei com a ideia de tudo ter a ver com ela.

-Mãe, não quero ir a essa festa chata de família.
-Minha filha! Como você pode fazer isso comigo? O que as pessoas vão falar de mim? O que eu fiz pra merecer isso?

Você entendeu, né?

Então.

Daí essa semana meu irmão veio me contar que mamãe trocou o fogão que fica no terraço aqui de casa. O fogão de lá tinha 4 bocas. Minha mãe trocou por um de 6 bocas.

A explicação:

-Eu cozinho rápido demais. Um fogão de 4 bocas não consegue me acompanhar. É fraco.

Não consegue acompanhar.

É fraco.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

E tem aquelas vezes em que eu como tanto que engordo e fico com uma barriga que não reconheço como minha. Eu olho e vejo uma coisinha que foi anexada ao meu corpo. De onde surgiu? Para onde vai?

Sendo eu a pessoa que eu sou, é claro que não consigo admitir que a culpa é minha. Que excedi o limite aceitável de calorias. Que comi demais. Que tomei chopps além da conta. Lembra de tomar sorvete no lanche, Renata? Ih, não lembro.

É claro que sendo eu a pessoa que eu sou, eu penso que só posso estar grávida. Mesmo quando essa possibilidade não existe. Eu sempre acho que estou grávida.

E funcionando a minha mente da forma como ela funciona, toda uma história começa a se desenhar dentro dela. O que eu faço agora? Levo a gravidez adiante? Como vou criar essa criança? Onde vou colocar o berço? Conto para o pai? Não, não conto. Aí, um dia, já com muitos meses de gravidez (porque eu tenho certeza que vou ficar pelo menos 15 meses grávida, que tudo comigo é no exagero), vou encontrar o pai da criança, assim por acaso. Daí me imagino, muito digna, dizendo "não, o filho não é seu. é só meu." E uma lágrima cai.

Porque eu vivo dentro de uma novela, né? Eu me esforço pra viver dentro de uma novela.


mãe, eu sei que você resolveu ler o blog há pouco tempo, embora você soubesse da existência dele desde sempre. bom, mas então queria esclarecer pra você e papai que eu só poderia ficar grávida do espírito santo, tá? pra honrar a educação católica que vocês me deram. tô indo ali rezar o terço. um beijo.

domingo, 24 de abril de 2011

Eu não costumava contar para as pessoas. Porque demorou muito até eu entender o que era depressão e isso tudo. Então eu não costumava contar para as pessoas porque nem eu sabia.


A minha vida toda, até a hora em que eu ouvi minha analista dizendo "você tem depressão, você tem que aprender a viver assim", eu achava que era dramática.

Mas, né? Para nenhuma adolescente, por mais dramática que seja, é normal chorar no chão da cozinha porque não tem forças pra levantar e chegar até o quarto.

Daí eu só entendi há alguns anos e nunca soube direito como agir. Eu devo falar de cara, quando conheço alguém, pra preparar a pessoa? "Oi, eu sou a Renata, sou professora de Inglês, eu legendo filmes e também sou depressiva, e você?" Espero um dia ruim chegar pra explicar que, olha, não é por nada, nem é falta de educação, eu não tô a fim de conversar porque tô mais a fim de chorar? Nunca sei como tocar no assunto. Ou mesmo se devo tocar ou não. Porque não é desculpa, eu não quero usar como desculpa. Eu só quero explicar mesmo.

Mas essa hora sempre chega. E não importa o que eu tenha decidido fazer. Se eu não falei nada. Se eu falei em forma de piadinha. Se eu falei sério. Se eu falei como quem não quer nada. A hora de contar por que eu não retornei a ligação, por que eu demorei tanto pra responder o e-mail, por que eu tô com essa cara e não dei um sorriso. Essa hora sempre chega.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Daí chegam os dias ruins e você tem que se dividir entre chorar por 37 motivos diferentes, mandar e-mail pros amigos especificando cada um desses motivos, definir se é depressão, coração partido, tristezinha ou tpm.


Não é fácil, viu?

terça-feira, 19 de abril de 2011

-Você não acredita em amor à primeira vista?

-Eu não acredito em amor. É claro que eu acredito em amor à primeira vista. É o único tipo de amor em que eu acredito.

domingo, 17 de abril de 2011

Tudo seria muito mais fácil se a gente vivesse dentro de um filme. Bastaria dizer um pro outro: "Vamos nos encontrar no topo do Empire State daqui a um mês."


Daí a gente teria um mês pra pensar, fazer uma listinha de prós e contras e decidir se ia ao encontro ou não.

E tudo estaria resolvido.

Nada dessa batalha diária, dessa necessidade de fazer curso pra mandar sms, desse "aimm, será que ele gosta de mim?"

Tudo seria muito mais simples se a gente só tivesse que marcar um X.

Ele tá no topo do Empire State me esperando?
( ) Sim.
( ) Não.

Existe um limite pra ser babaca.


Uma pessoa só pode ser babaca até um certo ponto. Passando desse ponto, é você que começa a ser otária mesmo.

(serve pra tudo)

sábado, 16 de abril de 2011

Eu tenho assim uns vários amigos gays. De infância, adquiridos depois, tenho uns vários. Não tenho nem o que falar sobre eles serem gays porque não tem nada neles que os torne diferentes. É tudo igual.


E, pra mim, sempre foi igual. Até que um amigo pediu uma sugestão pra comemorar o aniversário dele e disse "que seja gay friendly, por favor. não quero tomar coió."

Parece estúpido, eu já era adulta e tudo, mas eu não tinha me tocado até aquele momento que meus amigos podiam ser agredidos por serem eles. Meus amigos.

É claro que eu sempre soube que existem pessoas que não gostam de gays. Mas acho que eu nunca tinha me tocado que os agressores podiam estar tão perto.

E, sabe, tento pensar numa coisa mais injusta do que odiar alguém por algo que ela não escolheu e não consigo achar nada. Odiar uma pessoa por uma coisa que nem te diz respeito. Que nem muda a sua vida. Odiar os meus amigos. Não pode.

Então, assim, não faz diferença se você gosta de pessoas do mesmo sexo ou não: meus amigos são gays, eu sou gay, todo mundo é gay. E se isso faz diferença na sua vida, tem alguma coisa errada com você.
...
O projeto #EuSouGay pede que todos enviem fotos com um papel onde esteja escrito #EuSouGay pro e-mail projetoeusougay@gmail.com

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Às vezes tenho que me perguntar: que pressa é essa?


Quando quero falar 108 palavras por minuto. Quando o coração bate mais rápido. Quando as mãos têm que segurar uma caneta ou apertar os dedos. Quando tem que ser e tem que ser agora e não pode ser depois porque depois não dá mais então tem que ser agora.

Que pressa é essa?

"I've exploded into your life, just as you have exploded into mine."*

Você finalmente resolve escrever e desenhar no caderno que comprou há três anos e nunca usou porque não queria escrever só coisas tristes e não conseguia pensar ou sentir coisas não-tristes pra escrever e coisa e tal.

Você abre o caderno, desenha um balão vermelho na primeira página, escreve um trecho de um livro que você tá lendo.

No caderno que você comprou há três anos e nunca usou porque não queria encher de tristeza.

E lá no meio dele, no meio de todas aquelas páginas em branco, você encontra uma carta de amor.

:(

"Voilà, that's it!"

:)


*Jed Parry para Joe Rose em Enduring Love, de Ian McEwan.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Mal entro na sala e ela tá lá. Nerdzinha, de óculos, falando muito rápido.


-Teacher, a prova tá difícil?
-Hmm, depois que você fizer, você me diz o que achou, tá?
-Teacher, eu vou tirar 10!
-Ah, vai?
-Vou! Você sabe, né, teacher? Eu sou muito inteligente. Eu sempre tiro 10.
-Olha, mas que convencida! hahaha.
-Você sabe que eu tô falando a verdade, né? Eu não sou muito inteligente, teacher?
-É, sim.
-Então. Eu sou mesmo muito inteligente, você sabe.

E as gargalhadas.

Ela tá lá. Eu, aos onze anos. (menos as gargalhadas, que eu lembro que era bem séria nessa idade)

Uma das coisas mais legais de ser professora é conhecer tanta gente, tanta gente igual e diferente.

mais uma

Se essa história de me relacionar com meninos me ensinou mais uma coisa foi: sabe quando você tá lá, toda orgulhosa de si mesma porque conseguiu colocar um ponto final na história?

...
Só quem já levou pé na bunda sabe como isso é um chute na autoestima e sabe o orgulho que a gente sente quando consegue encerrar uma história com dignidade. Mesmo que a dignidade esteja só na sua cabeça porque já se perdeu há muito tempo.

Faz toda a diferença colocar você mesma o ponto final na história.
...
Bom, aí. Aí que você colocou o ponto final na história. Jurou pra si mesma que nunca mais, que não vale a pena, que você merece mais. Você tá lá, toda orgulhosa de si mesma. Parabéns! Agora ele vai ver o que perdeu.

Mas, olha, o que eu aprendi com essa história de me relacionar com meninos é que você tá aí, toda orgulhosa, se controlando pra não ligar, pensando "só por hoje" e ele não tá dando a mínima.

Ele não tá dando a mínima.

mas, força aí. se você acha que não pode ligar, deve ter um bom motivo.

domingo, 10 de abril de 2011

Todo mundo se vê de uma forma que nem sempre é a mesma de como as outras pessoas nos veem, né?

Eu, por exemplo, quando entro num lugar, acho que tô entrando com vento no meu cabelo, tô pisando bem forte de coturno e camiseta de caveira e o N.E.R.D tá no fundo cantando em coro she's bad bad badass.

Mas acho que minhas camisetas de caveira não tão fazendo bem o trabalho.

Porque de repente eu tenho que responder:
-Você era boa aluna no colégio, não era? Você tem a maior cara de que era boa aluna.

E, hum, eu era sim.

Mas agora, ó, agora eu sou muito durona. Cuidado comigo e... ¬¬

daquele tipo que ouve dos professores "queria ter uma filha igual a você."

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ah, acho que entendi!

Fofo é para as meninas o que exótica é para os meninos.

Os meninos nos chamam de exótica achando que estão elogiando, coitados. Eu até entendo a boa intenção e até entendo o que eles querem dizer com exótica.

Mas não dá, né? Exótica não dá.

Tudo que a gente quer é ser linda.

E os meninos, o que eles querem ser?


fui procurar posts em que eu falava sobre ser chamada de exótica pra colocar um link aqui e, nossa!, como tem post sobre isso. parece que passei a vida toda sendo chamada de exótica. oh, wait!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

-Ele é tão bonzinho.
-Ah, Renata, pelamordedeus, bonzinho não. Bonzinho não, né? Não me diz isso. Completa: ele é tão...
-Atencioso. Ele é tão atencioso.
-Ah, tá. Melhorou.

Eu sei que meninos não gostam de ser chamados de bonzinhos. Ou de fofos. Eu sei, já me disseram, eu entendi.

Mas eu não quero só dizer que é bonito. Não quero só dizer que é inteligente. Não quero só dizer que uau, fico arrepiada só de pensar. Nem quero só dizer que é engraçado e me faz rir.

Eu quero dizer que me faz ter vontade de andar de mãos dadas. Me faz ter vontade de encostar minha cabeça no ombro. Me faz sorrir fechando os olhos.

Eu quero dizer que faz o meu coração ficar quentinho.

Que palavra eu uso?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

É porque eu sei que ainda me falta superar muitas coisas na vida que eu também sei que já superei muitas outras.

A dor eu já superei, eu sei. Posso falar sobre isso, posso escrever, posso deixar pra lá. Não importa, não dói mais.

Mas o orgulho ferido. A lembrança de que foi a primeira vez que meu coração foi partido. Tudo que eu faço pra evitar que aconteça de novo.

Ainda não.

Um dia, espero.

One of these days the ground will drop out from beneath your feet
One of these days your heart will stop and play its final beat
One of these days the clocks will stop and time won't mean a thing

But it's alright
Yet it's alright
I said it's alright

Easy for you to say
Your heart has never been broken
Your pride has never been stolen
Not yet, not yet


Eu sou bem esse tipo de pessoa. Sabe assim? Digo uma coisa, daí depois fico pensando que a pessoa vai entender tudo errado. Penso, penso, penso que a pessoa vai entender errado. Penso, penso, penso. And I'm just a soul whose intentions are good. Oh, lord, please don't let me be misunderstood, né? Faça o que quiser comigo, mas não me entenda mal.

Daí não me aguento. Mando um e-mail no meio da madrugada só pra dizer "olha, sabe aquilo que eu te disse há uns dias? então, espero que você tenha entendido que eu quis dizer isso-isso e não aquilo-aquilo. Eu não sou maluca."

E-mail no meio da madrugada. Falando de uma coisa dita há dias. Eu não sou maluca.

Assim. Nem com muita boa vontade a pessoa acredita em mim, né?


a parte boa disso é saber que eu não sou a única. né, J.?