domingo, 30 de outubro de 2011

No meio da historinha que eu estava contando para meus minialunos, havia a palavra "mouse". Daí fiz todo um teatrinho sobre como eu tinha medo e não gostava de ratos.


Na aula seguinte, minialunos chegam com sorrisinho de canto de boca. Quando eu percebo, estão colocando ratinhos de brinquedo nos meus pés. Ratinhos que andam e fazem barulhinho.

Eu fiz uma cena. Falei "oh, my god! oh, my god! mice, mice! help me!" e eles morreram de rir.

Só que. Vai fazer uma brincadeira que agrade a crianças de 7 anos pra você ver. Tem que repetir até morrer de exaustão. E passei o resto da aula dizendo "oh, my god", dando pulinhos e fugindo de ratos de brinquedo.

E eu ouvi a Mari C. falar pro Lucas:
-Não, Lucas. Não pode colocar na cabeça da tia, porque tem rodinhas e vai ficar preso no cabelo dela. E se a tia ficar careca?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Este semestre fiquei com uma turma que já tinha sido minha há um ano. Na primeira aula, fiquei impressionada em ver como o inglês de uma aluna - adolescente - tinha melhorado. Ela tava mais participativa, sem medo de falar, boa gramática, bom vocabulário.


Mas, naquela confusão de primeiro dia, ela foi embora e eu não disse nada.

No segundo dia, planejei melhor. A aula acabou e eu fui até a mesa dela e disse "R., queria te dizer que fiquei muito feliz em ver você falando inglês. Como seu inglês tá bonito, parabéns."

Daí eu vi uma coisa que vejo poucas vezes. Ela abriu um sorriso enorme e disse "Poxa, obrigada. Você não sabe como eu fico feliz de ouvir isso de uma professora como você."

O inglês dela é bonito, de verdade. Ela é linda. E pra mim foi uma lição. Como receber um elogio e ainda retribuir com outro, da forma mais natural do mundo.

Vou tentar fazer isso também. :)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

como os sentimentos esdrúxulos

Eu tinha que procurar os comprovantes de que votei nas últimas eleições. Mergulhei na minha gaveta de documentos e coisas que importam. Por coisas que importam você pode entender desde canhoto de cheque até ticket usado do metrô de Paris. Coisas que importam.


Achei os comprovantes, é claro. Eu tinha certeza de que eles estariam lá. Achei meus comprovantes.

Junto com os comprovantes, achei um rascunho da última carta de amor que eu escrevi. E fiquei pensando em como um menino pode ser tão bobinho e nem perceber que aquela carta que foi parar nas mãos dele como quem não quer nada é uma carta de amor. Ou como um menino pode ser tão esperto e fingir que nem percebeu que aquela carta é uma carta de amor.

Então fiquei pensando em como eu sou tonta. A tonta sou eu. Tão tonta que só agora, tanto tempo depois, entendo e admito que escrevi uma carta de amor.


sim, era ridícula.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

-Ah, então você tá apaixonada?

-Não sei, acho que tô, né?
-Não sabe? Como não sabe?
-Não sei, mas acho que tô. Não lembro bem como é.

Daí ela me explicou alguns sintomas de paixão. Juro pra você. Eu ali, sentada na poltroninha. Ela lá, escrevendo coisas na pasta que tem tudo sobre mim e me explicando quais são os sintomas da paixão.

os.sintomas.da.paixão.

Eu mereço a vida que eu levo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Perdoei muitas coisas. Consegui entender que a dificuldade dele era a minha. Que o medo dele era o meu. Que o que ele não podia prometer a mim eu também não podia prometer a ele. Que a culpa não foi só dele. Que se ele não quis se jogar, eu também não quis, do meu jeito. Que a mágoa era da vida, do amor, que chegou tão grande num momento tão impróprio, não dele. A mágoa não é dele. É de nós dois, dois atrapalhados.


Ficou aquela dorzinha no fundo do coração sempre que eu lembro. Ficou uma amargura que eu ainda não sei bem onde colocar, mesmo depois de tanto tempo. Ficou um pé atrás com todo mundo que aparece. Ficou uma mágoa da vida, do amor, mas não dele.

Só sobrou uma mágoa dele. A única culpa que eu jogo nele é ter permitido que eu me apaixonasse por outro. Aquele espaço que ele abriu e que agora me faz pensar de olhos fechados em outro menino.

Por que você foi tão adulto e desejou que eu fosse feliz?

Isso não se faz.

sábado, 8 de outubro de 2011

uma flor roxa

Vou repetir aqui a pergunta que já fiz mais de três milhões de vezes para amigos, analista, Hannah de língua de fora e focinho molhado, estrelinhas no céu.


Por que é tão difícil? Por que eu tenho que fazer tanto esforço? Não era pra ser fácil?


eu sei, foram três perguntas e não uma. mas é disso que eu tô falando.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Funciona assim: você dá uma topada no pé da cama, o seu pé dói, você xinga. Se doer muito, você pode até chorar um pouquinho, cai uma lágrima, talvez caiam duas. Você vai andando com a dor e deixa pra lá.


Eu dou uma topada no pé da cama, o meu pé dói, eu xingo. Um pouco porque doeu, um pouco porque eu sou desbocada mesmo. Eu choro um pouquinho. Eu decido que tá doendo muito e tenho que chorar mais um pouquinho. Eu derramo muitas lágrimas. Eu decido que ainda está doendo, então eu preciso chorar mais. Não para de doer. Eu me acho uma idiota. Como eu não vi o pé da cama? Eu choro um pouco pela dor - ainda tá doendo - e um pouco por ser idiota. Eu decido que sou muito idiota, talvez a pessoa mais idiota do mundo. O pé da cama sempre esteve ali, por que eu não desviei? Ainda tá doendo, não para de doer e além disso eu sou uma idiota. Sou mais idiota ainda porque não consigo esquecer. Já passou, foi há tanto tempo. Por que eu ainda tô pensando nisso? Eu tento andar com a dor. Dói mais ainda. Como eu sou idiota, nunca vai parar de doer. Como eu permiti que isso acontecesse? Bastava desviar do pé da cama. Eu fui idiota e dei uma topada e agora não consigo nem andar.

Daí eu choro porque bati o pé, porque sou idiota, porque não consigo esquecer, porque eu não consigo andar direito e por que mesmo, hein?

Já são tantos motivos que era melhor nem ter dedos pra não sentir a dor da topada e - nossa mãe! - acabo o dia chorando porque tenho dedos.