segunda-feira, 14 de março de 2016

Estou ainda um pouco chocada com o quanto São Miguel dos Milagres é linda. Eu tinha uma expectativa muito alta, há anos pesquiso sobre a cidade, sempre adiando ir por um motivo ou outro. E chegando lá, a praia é igual a todas as fotos que eu vi. Linda, linda, linda.




Como uma amiga já tinha me avisado, todos lá são casais. Eu fui sozinha e é um lugar ótimo se você quer uma praia linda e deserta e não quer fazer nada além de descansar e comer bem. Acredite quando as pessoas disserem que é uma praia deserta. Em alguns momentos eu tive que pensar "hmm, melhor esperar alguém chegar na praia pra não entrar no mar sozinha depois dessas caipirinhas de seriguela." Mas eu esperava, esperava e não chegava ninguém.


Eu fiquei na pousada Villa Pantai e gostei muito. O quarto era muito confortável, todos da pousada eram muito simpáticos e ela fica bem na praia, em Porto da Rua. O café da manhã é maravilhoso, mas, bom, Nordeste, né? Se tem café-da-manhã ruim por lá, eu nunca vi. 
Um dos garçons, toda vez que trazia meu jantar pra mesa dizia "Olha o papazinho!" Eu me sentia em casa (dos meus pais) (há uns 30 anos). Mentira. Meus pais até hoje chamam comida de papá. ;)

Lá tem pousadas na cidade, que é bem pequena, você não vai andar muito pra ir pra praia. Mas, sinceramente? Fica na praia. Pé na areia, vale cada centavo acordar de frente pro mar.





O mar é lindo, é de uma cor verde azulada tão bonita que é quase inacreditável. Quando a maré tá cheia ele fica uma delícia, com ondinhas mas nunca bravo.

O motorista do transfer da volta pro aeroporto era muito falador. Me contou fofocas de toda São Miguel dos Milagres. Como o motorista da ida, que era mais calado, ele também morou um tempo em Maceió e não se adaptou, a vida lá é muito corrida e cara.

-Essa cidade por onde estamos passando é Passo de Camaragibe, a terra de Aurélio Buarque de Holanda, aquele do dicionário. Se já é essa calmaria hoje, imagine naquela época. Eu fico me perguntando como foi que Aurélio pensou em tantos significados para as palavras. Será que foi olhando pro céu, foi?

Deve ter sido.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Eu me apaixonei por um homem que limpava meus óculos. Desde a primeira vez que nós nos vimos ele limpou meus óculos. Não me deixou limpar num guardanapo, deu um sorriso de canto de boca, limpou com a flanela que ele carregava para seus próprios óculos e me devolveu os meus.

Quando ele tirava os óculos dele, fazia a mesma cara que eu faço quando tiro os meus. Os olhos apertados, a pouca audição. Sem óculos ele começava a frase com "Então, Renata..." e contava uma longa história sobre seu dia.

Eu gostava que ele era organizado e a casa estava sempre limpa e a cama arrumada. Eu gostava que ele me mandava fotos de todas as refeições. Eu gostava das fotos dos discos quando chegavam pelo correio.

Na primeira vez na casa dele eu tirei meus óculos e só fui procurar de novo quando meu táxi chegou, o disco fazendo toc-toc na vitrola, meus tênis perto da cadeira em frente ao jardim.

Na primeira vez que a gente se viu ele se atrasou porque estava cuidando do limoeiro e nós fomos num bar que eu detesto, mas não tive coragem de dizer não. Quando a gente saiu, de mãos dadas, eu me senti boba e jovem e eu queria muito escutar o disco amarelo do The National, mas eu queria muito também tirar meus óculos.

Chegou o dia que ele respondeu só Hmm e eu senti tanto que me deu vontade de tirar os óculos. Ou de ficar com eles sujos, sem limpar.

Eu me apaixonei por um homem que limpava meus óculos até que eu tive que deixar pra lá.