quarta-feira, 6 de maio de 2015

O meu dia começou com um helicóptero sobrevoando a minha casa porque um trem descarrilou bem em frente. Já pronta pra sair eu descobri que minha calça tinha não apenas um, mas dois rasgos e tinha que ser trocada por outra o mais rápido possível. Fechando a porta, notei que combinei a cor do blazer com a do batom com a do esmalte, argh. Não tinha trem pra ir pro trabalho. Também não tinha ônibus, porque todas as pessoas saíram enlouquecidas atrás de um. E então no meio do dia eu perdi meu cartão do banco e para pedir que outro chegue na minha casa e não na agência eu preciso ir até uma agência, como uma neandertal, como se eu vivesse no século XX. A assistência técnica me explicou, assim sem tremer a voz nem nada, que o técnico não veio consertar o ar condicionado  no dia inteiro que eu fiquei esperando porque não achou vaga para estacionar na minha rua. A secretária do médico ligou para adiar a consulta e riu da minha cara quando eu expliquei que moro em Nova Iguaçu e nem pensar que vou até Copacabana num sábado só porque meu joelho sai do lugar às vezes. Nenhum caixa eletrônico funcionava sem cartão. No ônibus, a pessoa do meu lado achou que era uma boa ideia comer um cachorro-quente.

E foi assim que no fim do dia eu me vi abraçada a uma abóbora no supermercado. Eu e a abóbora. Até que uma pessoa ficou fazendo psiu, psiu, psiu pra mim. Pra mim e para a abóbora. E quando eu virei, era uma funcionária me perguntando se eu queria que ela cortasse a abóbora pra mim.
-Ah, você corta abóboras?

De alguma forma a minha reação fez sentido para ela, talvez ela já tenha tido muitos dias ruins e saiba que cara a gente faz ao final deles. Ela delicadamente tirou a abóbora de mim e me devolveu apenas metade dela, o que impediu que eu viesse para casa abraçada a uma abóbora inteira, que era o meu não-plano de quem não está pensando em nada além de "preciso de uma sopa".

3 comentários:

  1. Pumpkin soup for the soul

    ResponderExcluir
  2. Te entendo, cara.Mesmo. Me ofereceria pra ir aí te dar um abraço se eu não morasse no fim do mundo e não tivesse aversão a contato físico.

    ResponderExcluir
  3. Tão triste e tão engraçado. Vc tem um dom maravilhoso. Eu tb queria te dar um abraço, mas eu sei q vc não gosta, então q bom q vc encontrou a abóbora. Pq há mesmo dias assim, né? Mas amanhã será bem melhor. (NADA a ver com o post, mas... vc não pensa em escrever um livro? Pq só com os textos do blog, vc já é uma das minhas escritoras favoritas. Acho q um livro seu seria delicioso.)

    ResponderExcluir