Eu só pareço boba, mas eu sou até bem esperta.
Eu sei que quando alguém faz uma cara de espanto e diz "Nossa! Tá toda arrumada" não é um elogio e nem um comentário inocente. O que a pessoa quer dizer mesmo é que eu sou fútil e me importo com coisas superficiais.
Eu tô acostumada. O que eu não entendo é como o fato de eu estar usando uma roupa bonita pode incomodar. Comprei com o meu dinheiro. Gastei o meu tempo pensando em como eu ia combinar aquela peça. Me senti feliz com o resultado e saí de casa. O que, na minha roupa, que só tem a ver comigo e ninguém mais, pode incomodar?
É como se eu tivesse que me justificar. Olha, tô usando essa roupa aqui, mas eu não me importo só com isso. Eu também leio, tenho amigos, sou legal, dou dinheiro pra ajudar cachorrinhos. Olha só, eu até estudo.
Sério, a roupa é minha. É importante pra mim. Como deve ser importante pra você juntar dinheiro pra comprar uma casa. Ou ter filhos. Ou ter um celular caro que faz mil coisas que meu celular simples não faz. Ou usar sapatos feios, sei lá o que dá sentido à sua vida.
mas o melhor de tudo é que se eu quisesse ser sincera e dizer "olha, sou fútil mesmo, roupas são importantes pra mim mesmo e mesmo assim sou mais inteligente do que você" eu poderia. então, me deixa quieta com meus vestidos de laço e para de se fazer de cult.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
O cara me diz assim:
-Eu faço a minha empregada lavar todas as minhas camisetas a mão. Não pode botar na máquina de lavar, que estraga.
E eu penso:
-Economiza o papinho, porque você acabou de ganhar to-do o meu desprezo.
Mas de verdade mesmo eu digo:
-Que frescura, hein?
Dou um sorrisinho e vou embora.
marcadores falta de noção, meninos
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
o que me ofende
Alguém diz que me acha parecida com uma menina.
Cara, não é porque eu acho a menina feia, não é porque eu acho a menina chata.
Mas você viu que a menina só usa bege? Como é que alguém me confunde com uma pessoa que só usa bege? Eu sou uma cartela pantone disfarçada de professora de inglês. Pra quê? Pra ser confundida com alguém que só usa bege, cinza e preto?
Não dá.
Me ofende.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
um dia na minha vida
Saio de casa me achando a pessoa mais legal do mundo com meu batom fúcsia e minha camiseta de caveira.
No caminho de casa pro trabalho um homem me diz "Nossa, você tá ridícula!" Não sei se ele está falando do batom, da camiseta, da armação neon dos meus óculos escuros ou de mim como um todo. Só levantei meu dedo do meio, chocada demais pra perguntar o motivo da agressão, mas experiente demais em maluquice pra passar por isso sem reagir.
Conferindo meus e-mails, drama. Não contente em levar um fora, eu gosto de passar do fundo do poço e levar dois foras da mesma pessoa. Então, tá.
Indo pra pós, sentada no corredor do ônibus, um homem pede pra sentar na janela. Agradece 1 milhão de vezes. Obrigadoobrigadoobrigadoobrigado. Quando começou a conversar com as roupas que estava vestindo, entendi que tava bêbado.
E aí rolou, né? Choro num espaço público. Choro, lágrimas, pequenos soluços.
Que delícia.
mas meu batom fúcsia ficou aqui o dia todo. é preciso resistir.
Por causa de tudo pelo que eu passei, porque eu fui criada pra ser independente, não precisar de ninguém, me bastar, ser melhor do que todo mundo, é uma dor quase física me apegar a alguém. Sempre é uma escolha e é sempre tão difícil.
É como se eu estivesse abrindo mão de ser eu.
Eu normalmente luto contra isso. Quero ser mais aberta, mais fácil, mais dócil. Não quero que o amor seja um campo de batalha (<3) pra mim. Não quero ter que me preocupar com quem está por cima e quem está por baixo.
Normalmente eu luto contra isso.
Mas, às vezes, só às vezes, eu quero agradecer a mim mesma por ser assim.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
A gente se encontrou por acaso duas vezes na mesma semana.
-Olha, que assim eu penso que você tá me seguindo.
Pânico. Será que ele acha mesmo?
E não consigo ser legal, engraçadinha nem simpática. Passo o resto do tempo fingindo que não tô prestando atenção pra ninguém achar que eu sou maluca e sigo pessoas pela rua.
Minha mãe vai reclamar da minha antipatia a vida inteira. Ela passa todo o tempo livre dela perguntando qual é o meu problema. Por que eu sou tão chata? Por que sou tão implicante? Tão insatisfeita?
Eu poderia passar o meu tempo livre todo explicando meu problema, meus vários problemas. Se minha mãe não fosse leonina e conseguisse ouvir o que as pessoas dizem.
Mas o caso é que meninos sempre dizem que eu sou ultra simpática. É uma coisa que eu já ouvi algumas várias vezes na minha vida.
E sempre acho engraçadinho e bonitinho, porque, se liga, eu não sou legal, eu tô te dando mole.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Eu vou falar um palavrão agora. Eu sou muito boca-suja, falo palavrão o tempo todo, mas no blog e no twitter evito porque quero fazer a fina. ;)
Só que não dá, vou falar, porque só um palavrão vai conseguir representar a intensidade. Tá?
Eu sou implicante pra caralho. Muitomuitomuito implicante.
-Sabe aquela hora em que eu comecei a falar do jogo do Floo, que eu quase tinha chorado com o gol do Alan e como meu time é lindo e tal?
-Sei.
-Foi porque fulaninha tava se fazendo de cult, falando mal de futebol, dizendo que não faz sentido, que não entende quem vai ao estádio, que o torcedor não ganha nada quando o time ganha.
-Poxa, podia ter me avisado, pra eu entrar na onda.
Implicante pra caralho. E minhas amigas também.
Eu tava no restaurante esperando duas amigas. Tomando um chopp e lendo o cardápio. Entrou um vendedor de flores. Ele tava com a camisa do Floo, então ganhou minha simpatia imediata. Quis comprar pra mim e pra minhas amigas. Depois de um dia inteiro trabalhando e estudando alguém tem que ser legal com a gente.
-Quanto é?
-Dez reais. Mas pra você que tá sozinha eu faço por 5.
Ah, sim, e a peninha que você sentiu de mim vem de brinde?
Não comprei, claro. Sozinha está a sua avó.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Eu tô aqui. Sou quase nada. Tô aqui, falando o óbvio, nunca digo coisas geniais. Tô aqui dando aula de inglês, explicando a diferença entre past simple e present perfect como se isso realmente importasse. Tô aqui tentando ser adulta sem muito sucesso. Tomando decisões sem ter a menor idéia do que eu tô fazendo. Cara, quem leva a sério alguém que usa óculos escuros de armação cor-de-rosa neon? Eu saio por aí com broches em forma de pavão. Com vestidos estampados com guarda-chuvas.
Enfim, tô aqui, sou eu. Não sou brilhante, não sou deslumbrante de linda.
Então só queria entender por que* homens têm tanto medo de mim. Queria entender por que depois de mim eles sempre escolhem alguém que nem sabe escrever direito?
por favor, só comentários falando sobre o quanto eu sou legal, linda e inteligente e como sou a rainha da acentuação e nunca erro na crase. tsá? ;)
*e olha como eu arraso nas regras dos porquês.
domingo, 8 de novembro de 2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Existem coisas que dentro da minha cabeça fazem muito sentido, mas quando eu conto pra alguém vejo que aquilo só faz sentido pra mim.
Uma dessas coisas é a roupa de conflito. Há alguns anos eu comecei a notar que tinha uma sensação ruim quando via mulheres em filmes de ação. Porque elas nunca estão vestidas com uma roupa adequada. Lembra a Jamie Lee Curtis de vestidinho lutando contra terroristas em True Lies? Me incomoda muito.
De vestido não dá pra dar chutes, você não está protegida. Como vou dar um chute em alguém se na minha mente está gravada a voz da minha mãe dizendo "renata, olha os modos, você está de vestido." De salto alto não dá pra correr e se defender.
Daí depois percebi que eu aplicava isso na minha vida. Sempre que saio de casa penso se vou pra algum lugar onde possa me envolver num conflito. Se a resposta é sim, vou de calça, sapato baixo, uma blusa que permita que eu me movimente e salve minha vida. Se não, posso ir de vestido ou saia.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Daí tava lá no provador, tentando vencer o bloqueio contra calças de boca estreita. Muito medo de parecer um balãozinho. Mas, né? Liquidação de coleção recém-lançada eu pre-ci-so aproveitar.
-Ihh, não sei. Esse quadril...
E a vendedora tentando agradar:
-Que quadril? Você não tem quadril!
Poxa, mas tá tentando me convencer a comprar a calça ou tá só querendo me ofender mesmo?
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Cara, tava atravessando a rua, aí ouvi "ei, branqueeeela, nwjcijcihvh." Daí virei pra ver o que era. Eram umas pessoas dentro de um caminhão me ofendendo.
Esta é a minha vida.
...
Mais tarde, quando contei para os amigos:
-Era um caminhão DE LIXO? HAHAHAHAHA
-Não, era só um caminhão.
-Ah.
E o brilho no olhar dele se foi.