Eu me apaixonei por um homem que limpava meus óculos. Desde a primeira vez que nós nos vimos ele limpou meus óculos. Não me deixou limpar num guardanapo, deu um sorriso de canto de boca, limpou com a flanela que ele carregava para seus próprios óculos e me devolveu os meus.
Quando ele tirava os óculos dele, fazia a mesma cara que eu faço quando tiro os meus. Os olhos apertados, a pouca audição. Sem óculos ele começava a frase com "Então, Renata..." e contava uma longa história sobre seu dia.
Eu gostava que ele era organizado e a casa estava sempre limpa e a cama arrumada. Eu gostava que ele me mandava fotos de todas as refeições. Eu gostava das fotos dos discos quando chegavam pelo correio.
Na primeira vez na casa dele eu tirei meus óculos e só fui procurar de novo quando meu táxi chegou, o disco fazendo toc-toc na vitrola, meus tênis perto da cadeira em frente ao jardim.
Na primeira vez que a gente se viu ele se atrasou porque estava cuidando do limoeiro e nós fomos num bar que eu detesto, mas não tive coragem de dizer não. Quando a gente saiu, de mãos dadas, eu me senti boba e jovem e eu queria muito escutar o disco amarelo do The National, mas eu queria muito também tirar meus óculos.
Chegou o dia que ele respondeu só Hmm e eu senti tanto que me deu vontade de tirar os óculos. Ou de ficar com eles sujos, sem limpar.
Eu me apaixonei por um homem que limpava meus óculos até que eu tive que deixar pra lá.
quinta-feira, 3 de março de 2016
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Voltou!!!! Êeeeeee! Beijos
ResponderExcluirdas paixões que nos move... dos tempos em silêncio.
ResponderExcluiras vezes a gente precisa "deixar pra lá"
abraço.
Estava com tanta saudade dos seus textos que li devagar, pra demorar um pouco mais a acabar...
ResponderExcluirEla voltou!!!
ResponderExcluirEstava morrendo de saudade dos seus textos.
Nao abandone o site/blog, te gosto muito bjsss
Teus textos me doem de um jeito que não dá pra explicar! Obrigada por voltar!
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