quarta-feira, 23 de outubro de 2013

date #1

Quando ele voltou pra sala eu já tinha aberto as duas cervejas, a minha e a dele. Ele disse "obrigado, eu ia abrir pra você."

Depois que trouxe a segunda cerveja, ele abriu as garrafinhas com o antebraço e disse "não tô tentando ser machão. é mais fácil assim."

Eu não tinha dito nada.

Muitos minutos depois eu vi uma marca vermelha no antebraço, ele viu que eu vi e disse "parece uma marca de mordida, mas é da cerveja. lembra?"

Parecia mesmo uma marca de mordida. Eu já tinha esquecido a cerveja. Eu disse "parece mesmo uma mordida. mas eu não ia dizer nada, ia ser discreta. eu não sou ciumenta."

Ele chegou bem perto de mim. E.


eu menti, é claro. quando disse que não sou ciumenta. mas ele ainda não sabe.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Quando ele tava planejando nosso dia na praia e disse que queria que o dia tivesse 25h pra me conhecer mais, minhas mãos ficaram cheias de suor na mesma hora.

De tão quente que ficou o meu coração.
...
Eu fiquei tão atrapalhada, talvez até apavorada, que não soube direito o que dizer. Eu queria dizer pra ele voltar logo, que eu tava com muita saudade dele, da barba, de cada uma das tatuagens e dos olhos que ficam pequenininhos quando ele sorri.

Eu queria dizer voltalogovoltalogovoltalogo e acabei não dizendo nada que fizesse muito sentido ou diferença.

Mas ele voltou. Logo. Seis dias mais cedo.

E mesmo assim demorou tanto.

you're gonna make me lonesome when you go 1

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

-Estou com todos os ingredientes prontos pra fazer caldo verde.
-E o que falta pra fazer, pai?
-Você não disse se quer.
-Então basta eu dizer que quero e você faz caldo verde?
-Não.
-Então o que é preciso pra você fazer caldo verde?
-Eu ter vontade.

Dentro da cabeça do meu pai, só imagina como deve ser lá dentro.

domingo, 6 de outubro de 2013

À descoberta se seguiu o meu choque, completamente desnecessário, já que eu sabia e você sabia que eu já sabia de tudo. Eu soube de tudo tantas vezes e de tantas maneiras diferentes que o choque foi apenas parte do meu espetáculo, o filme de que todas as pessoas da minha geração acham que participam. Com o choque veio sua exclusão de todas as minhas redes de amigos na Internet e, sentindo que isso não fosse suficiente, o bloqueio do seu perfil para que você não pudesse me ver e eu não pudesse te ver. Nós deixamos de existir um para o outro há algumas horas ou alguns minutos, não lembro bem, e talvez você nem saiba. Isso eu não preciso avisar, não preciso ligar e dizer que não existimos mais um para o outro, se é que já existimos em algum momento desses três anos que você esteve na minha vida sem estar e eu na sua, menos ainda. Você vai perceber que já não existimos um para o outro, se é que já não percebeu. Talvez este seja o momento do café no seu trabalho, você se levante para tomar um café e quando volte abra o Facebook. Talvez você fique curioso e queira ver se eu publiquei uma indireta em forma de vídeo de música para você. Me ame, por favor, pelo menos um pouco. Percorrendo toda a sua tela, você não verá meu nome. Não verá um poema que eu tenha publicado para te convencer de que sou inteligente e sensível, ou uma música, para te convencer de que temos o mesmo gosto musical e por isso devemos ficar juntos, mais juntos do que jamais estivemos. Não verá uma foto de um grafite num muro, um grafite de coração ou um grafite irônico dizendo que não ligo para o amor, para que você se convença de que sou uma mulher moderna e independente e nunca te darei uma dor de cabeça ou um aborrecimento com crises de carência ou ciúme e por isso você deve escolher a mim. Você não me verá nessa tela, então talvez você decida entrar no meu perfil e é neste momento que você perceberá que eu não existo mais. Talvez você ainda não saiba que eu não existo mais só para você ou talvez você se dê conta disso na mesma hora que vê que eu não existo mais. Talvez você só perceba daqui a uns dias, quem sabe semanas. Eu nunca saberei, porque nunca mais falarei com você, estou muito decidida. Nós não existimos mais um para o outro e por isso eu nunca saberei como você descobriu que eu não existia mais, porque eu nunca mais falarei com você, nunca mais.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Outro dia eu tava voltando do pilates, parei na padaria pra tirar dinheiro no caixa 24h pra pagar o almoço que eu tinha pedido pelo telefone no caminho pra casa e na saída tentei passar por uma parede de vidro.

(eu não quebrei o vidro nem nada)


Eu não vi que era uma parede de vidro, é claro, ou eu não teria tentado passar por ela. Enquanto eu batia com a cabeça na parede de vidro, alguém gritou "aí tem um vidro!", mas já era tarde demais.

Desde esse dia, toda vez que eu entro na padaria e as pessoas ficam se olhando, apreensivas. Hoje eu tava saindo, tinha uma pessoa no meu caminho, fiz uma manobrinha pra desviar e acabei indo em direção à parede de vidro, mas era só uma manobrinha mesmo, eu juro, e alguém gritou "cuidado que aí fica o vidro!"

Cara, as pessoas não podem confiar em mim, que eu não vou mais bater com a cara no vidro? Eu prometo? Será que é possível? Apenas um voto de confiança.