Dez minutos para acabar o dia que eu passei inteiro pensando em você.
E eu espero o relógio como se no próximo dia eu fosse parar de pensar. Como se no dia seguinte nada que eu comer fosse me lembrar você, nada que eu beber, nada que eu falar, nada que eu ouvir. Se o frio me lembra você, a tortinha de cogumelos me lembra você, o shiraz me lembra você, meu casaco novo me lembra você, minhas camisetas de banda me lembram você. Se os poemas que eu leio me lembram você. Se todas as músicas que eu ouço me lembram você, os filmes que eu vejo me lembram você, todos os cigarros me lembram você. Se meus óculos me lembram você, minhas roupas me lembram você, meu cabelo me lembra você, meu perfume, seu perfume. Se tudo me lembra você, basta que mude o dia para nada mais me lembrar você.
Um minuto para acabar o dia que eu passei inteiro pensando em você.
sábado, 27 de julho de 2013
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Chegou o creme antirrugas que eu comprei e -
eu comprei porque eu já tenho algumas rugas. Eu não sei bem quando elas surgiram e elas não me incomodam tanto assim, mas tava numa super promoção e eu comprei. Bom, eu fiz 30 anos. Não vou ficar repetindo isso porque parece que eu não tenho assunto e talvez as rugas nem estejam aqui pelos 30 anos que eu acabei de fazer. Bom, já tem quase seis meses que eu fiz 30 anos, mas você entendeu. E vai saber se as rugas não chegaram aqui por todos os segundos e minutos que viraram horas que eu passei em frente ao microondas esperando o brigadeiro ficar pronto. Sim, eu faço brigadeiro no microondas, mas eu não estou falando de brigadeiro.
- o caso é que eu comprei o creme antirrugas com um ótimo desconto, talvez de 70%, não lembro bem e quando ele chegou em casa estava embrulhado num papel verde com letras brancas que formavam a palavra FELICIDADES mil vezes, um milhão de vezes.
Um creme antirrugas FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES FELICIDADES.
Eu não sei se foi brincadeira ou se estavam mesmo me desejando felicidade com o meu novo creme antirrugas - pelo menos não desejaram boa sorte, mas eu não posso me preocupar com isso agora porque estou tentando não franzir a testa.
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Eu não gosto de coca-cola. Gosto menos da ideia de coca-cola do que da coca-cola. A coca-cola eu até bebo, às vezes. Mas eu nuncanuncanunca na vida teria uma peça de roupa da coca-cola. Ou qualquer objeto que me lembrasse coca-cola. Eu não gosto da ideia da coca-cola. É mais ou menos isso.
Mas eu bebo coca-cola às vezes e é sempre muito bom. Não bebo todo dia, então quando eu bebo é sempre muito bom. É uma surpresa na boca, mil coisas acontecendo ao mesmo tempo. Tem o sabor, o gelado, o gás e a garrafinha que é tão bonitinha.
Eu acho que se bebesse coca-cola todo dia ia enjoar, não ia achar a menor graça. A coca-cola ia ser doce demais, eu mal sentiria o gás. Acho que pra mim seria uma coisa bem tanto faz.
Às vezes eu fico me perguntando se foi isso, se eu fui a sua coca-cola. Ou se você foi a minha.
quinta-feira, 11 de julho de 2013
Eu tava indo pro trabalho, sentada no ônibus de frente pra uma vidraça, lendo meu livro. Levantei os olhos e me vi com 30 anos.
Eu tinha um encontro marcado pra depois do trabalho e estava usando roupas novas, compradas no dia anterior, que não eram roupas minimamente atraentes para um encontro, eram só roupas de ir trabalhar. Fora que quando eu acordei, não tinha luz, então eu saí de casa torcendo pra que a calça tivesse vindo mais ou menos passada da loja e o casaco novo disfarçasse o amassado da minha blusa com estampa de flamingos.
Era assim que eu estava quando olhei o meu reflexo e me vi com 30 anos.
Eu sei que eu tenho 30 anos. Mas eu me olhei e me vi com 30 anos.
domingo, 7 de julho de 2013
de castigo
Minha analista perguntou o que eu fiz com a tela que ele me deu. Eu respondi que ela estava de castigo.
-O que você fez com a tela?
Queimei. Joguei no lixo. Mandei de volta. Desenhei um pênis com as bolinhas e tudo.
-Eu tirei ela de cima da cômoda onde ela ficava.
-E onde está a tela agora?
Na rua. Enterrei. Joguei num rio. Martelei. Anunciei no Mercado Livre.
-No meu armário, virada pra parede. A tela está de castigo.
Usei de banheirinho da Hannah. Dancei frevo em cima. Pisoteei. Vendi por 260 reais.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Publiquei finalmente a mixtape para os meus alunos adolescentes apaixonados.
She turns and says "are you alright?"
I said "I must be fine cause my heart's still beating"
...
Foi incrível ver, enquanto eu tava escolhendo as músicas, o tanto de música de dor de cotovelo que eu amo e quanto gosto pouco de músicas felizinhas.
É aquela velha dúvida: a gente ouve muita música triste porque sofre ou sofre porque ouve muita música triste? A música pop é responsável por todos esses corações partidos?
(a velha dúvida não é minha, é de Alta Fidelidade, o livro, o filme: "What came first, the music or the misery? People worry about kids playing with guns, or watching violent videos, that some sort of culture of violence will take them over. Nobody worries about kids listening to thousands, literally thousands of songs about heartbreak, rejection, pain, misery and loss. Did I listen to pop music because I was miserable? Or was I miserable because I listened to pop music?")
uma pequena defesa do "não é você, sou eu"
Não é você, sou eu.
Eu acho gentil. Não quero ouvir que sou chata, que uso roupas estranhas. Não quero ouvir que é porque eu engordei ou porque agora quando eu sorrio umas linhas aparecem. Não quero saber se é porque eu sou teimosa ou se é porque eu nunca uso esmalte clarinho. Não quero ouvir que é porque eu não soube me comprometer. Ou porque me comprometi demais. Não quero saber se você me acha meio burra. Ou se é porque eu sou inteligente demais pra você.
Acho gentil. Sou eu, não é você. Eu não quero mais. Eu quero outra coisa.
Eu já vou sofrer, já vou chorar. Não preciso ouvir que o problema fui eu só por ser eu. Se eu não fiz nada errado, se eu não fiz nada que tenha te magoado, se o problema é que você não gosta mais de mim, se o problema é que eu fui eu, então o problema não sou eu, é você que quer outra coisa. Obrigada por dizer isso.
A terapia me ensinou que muito pouco do que acontece dentro de nós tem a ver com o outro, a maior parte tem a ver com como a gente vê e sente as coisas e pessoas.
Tantas vezes eu disse que não é você, sou eu. E tantas vezes eu fui sincera. Eu não quis mais, eu quis outra coisa. Porque você quis me apresentar seus amigos, sim. Porque você não entendia arte da maneira como eu entendo, sim. Porque você era chato quando falava do seu trabalho chato, sim. Porque você queria conhecer minha família, sim. Nada disso está errado em você. Tudo isso sou eu, não é você.