domingo, 25 de novembro de 2012

Eu tinha um namorado de quem eu precisava me separar. Eu amava muito esse namorado, mas precisava me separar dele. A gente já tinha se separado, mas precisava se separar. Aquela coisa.

Daí, ele me dava uns livros. Naquela fase em que a gente já tinha se separado, mas precisava se separar. Eu também mandava livros pra ele. Livros que diziam muita coisa. L'Amour aux temps du cholera.

Ele me dava livros, os livros preferidos dele, livros que ele achava que tinham a ver comigo. E eu não li nenhum. Eu não li nenhum dos livros que ele me deu naquela fase em que a gente já tinha se separado, mas precisava se separar. Comecei todos eles e nunca consegui terminar. Eles seguem na minha estante, o marcador de páginas da livraria Cultura me mostrando onde eu parei.

Nenhum deles eu li e muitos deles eu nem entendi por que tinha recebido. Alguns eu só entendi quando ele me explicou e me mandou abrir na página 289 pra ver o que ele tinha escrito pra mim em caneta vermelha. O coração desenhado. Eu nunca cheguei até a página 289 de nenhum dos livros que ele me deu naquela fase em que a gente já tinha se separado mas precisava se separar.

...
Alguns anos depois, eu precisava me separar de alguém que não era meu namorado. Eu achava que ele não era meu namorado porque não queria e levei muito tempo pra aceitar que eu não queria um namorado.

Bom, aí tinha essa pessoa que não era meu namorado porque não queria ser mas de quem eu precisava me separar porque eu achava que queria ter um namorado.

Eu tinha que me despedir dele. Então eu me despedi e dei um livro cujo primeiro capítulo se chamava O amor é sexualmente transmissível. Foi a primeira vez que eu disse que amava aquele cara que na época não era meu namorado porque não queria.

A segunda vez que eu disse que amava esse cara que continua não sendo meu namorado também veio por escrito, mais de um ano depois, num cartão, com uma letra tão tremida que me envergonho só de lembrar. Tantos exercícios de caligrafia eu fiz.
...
Tudo isso pra dizer que hoje eu acordei e, como todos os domingos, fui logo ver os segredos do PostSecret.com. Quase todo domingo tem um segredo pra mim. O meu segredo de hoje foi esse:

"Eu leio livros que você me deu, livros que você me recomendou, e livros dos quais eu sei que você gosta, porque isso me faz sentir mais próxima de você."

 O meu segredo é que pra mim o sentimento é sempre palavra. Minha ou dos outros. Mas sentimento escrito pra mim é mais fácil de entender. E até de sentir.

e poucas coisas criam uma ligação tão forte entre mim e outra pessoa quanto gostar de um livro que eu recebi porque alguém tinha adorado e queria que eu lesse. é um encontro.

12 comentários:

  1. (: é sempre um encontro, realmente

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  2. não sei se é porque eu tive insônia, mas fiquei confusa: então até hoje você não leu os livros? ou você só não leu na época?
    no caso dois se ele continua não sendo namorado é pq a relação ainda existe, não?
    eu também gosto do postsecret e também acho que o sentimento escrito é mais fácil de entender, ou no meu caso, de transmitir. já que não tenho facilidade em exteriorizar sentimentos, acho que sempre tive medo. mas o último ex detestava receber qualquer coisa escrita, e cheguei ao ponto de não mandar e-mail pra ele de jeito nenhum. quando já estávamos perto de terminar ele me disse que tinha me mandado um e-mail perguntando se eu queria ir a um lugar x. eu disse que nunca recebi. ele tinha mandado para o e-mail errado, hahaha. fiquei com sequelas, mas sigo e sempre seguirei gostando da palavra escrita, seja em forma de sms, bilhetes, notas, cartas, e-mails, textos, livros...

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    1. não li os livros. comecei todos, mas nunca consegui terminar nenhum.

      hahaha, sim. nossa, lembrei agora de uma frase que eu li outro dia, dizendo que as relações nunca terminam.

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  3. Tinha esse cara que lia livros e me recomendava uns muito bons. Nem era meu namorado nem nada. No dia em que eu decidi que precisava me separar (antes que fosse tarde demais), peguei o primeiro livro que ele me deu e mandei um amigo devolver. Nunca mais o cara me ligou.

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  4. Sempre presenteio as pessoas com livros. Por motivos óbvios, talvez. Pelo fato de trabalhar em livraria e ser mais cômodo, mas também porque livros são os melhores presentes - e um bem durável. Um único livro pode durar séculos.
    Tento presentear de acordo com a personalidade do indivíduo. Deixo ficar subentendido muita coisa. Talvez o seu ex-namorado tenha imaginado o mesmo. Na esperança de que você tivesse lido.
    Abraços.

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    1. acho que sim. acho que quem gosta de livros sempre quer dizer alguma coisa com eles, né? acho que eu sou assim. =)

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  5. Me identifiquei tanto que até copiei uma frase lá no meu blog. Sentimento escrito pra mim é quase como um documento. Tem muito mais valor.

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