quinta-feira, 30 de junho de 2011

Uma das minhas alunas faltou a uma aula porque estava se recuperando de uma pequena cirurgia corretiva no nariz.


Veio ao curso fazer prova e assim que entrou na sala foi dizendo:
-Tenho um presente pra você.

Olha, eu sei, eu conheço. Presente? Não, não, não. Não caio nessa.

-Mari, nem vem que eu sei que é um pedaço do seu nariz!

Ela tirou um potinho da mochila. E o que era, o que era o presente?

Um pedaço do nariz dela.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Eu tinha trabalhado de 9 às 9. O dia inteiro pensando em aula, dando aula, corrigindo prova, preenchendo boletim, entregando tradução. De manhã até a noite.


Daí tava voltando pra casa e uma vizinha me chamou.
-Oi! Nunca te vejo!
-É, eu nunca passo por aqui.
-E o namorado?
-Não tenho namorado.
-Ah, você não foi feita pra casar, Renata.

você.não.foi.feita.pra.casar.re-na-ta.

Assim terminou o meu dia.

domingo, 26 de junho de 2011

Minha mãe me ensinou a não visitar uma pessoa com as mãos abanando. Nem sempre eu levei a sério o ensinamento, às vezes eu nem tinha planejado conhecer a casa de alguém, mas conheci. Mas eu tento, né? Se sei que vou conhecer a casa de alguém, tento levar alguma coisa.


Se tem uma coisa que eu não entendo na vida é decoração. Não sei nada de decoração, além de achar bonito ou feio. Então esses presentes de "oi, estou entrando na sua casa" nunca são itens de decoração. Porque tenho medo que a pessoa ache cafona e me ache cafona pra sempre e nunca mais me convide com medo de que na próxima visita eu dê um galo português, sei lá.

Bom, tudo isso pra dizer que quando eu conheço a casa de alguém, gosto de levar alguma coisa. Daí dessa vez eu não tinha ideia do que levar. Não ia dar tempo de fazer um bolo e se me lembro bem ele nem gosta de bolo. Comprei uma garrafinha de vodca e levei.

E você sabe o que eu fiz, né? Sabe, não sabe? Levei uma garrafinha de vodca pra um menino que tinha acabado de sair de uma crise de gas-tri-te.

Kill me now.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

ainda isso

-Teacher, você cortou o cabelo?

-Sim, Lucas, há mais de uma semana.

Cheia de mágoa no coração.


mais um pouco e eu começava a chorar e dizer "vocês não me notam! ninguém me nota! ninguém me ama! sou invisível!" tô bem equilibrada.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Que camisa branca linda! Que corte maravilhoso! Veste tão bem! Vale cada centavo! É tão linda, que vou usar só com uma calça jeans.


Só minha camisa branca linda e uma calça jeans.

E minha sapatilha rosa, pra alegrar a roupa.

Tá. Só minha camisa branca de corte maravilhoso, uma calça jeans e minha sapatilha rosa.

E um cinto de corrente dourada, pra dar um pouco de brilho.

Ok. Só minha camisa branca que veste tão bem, uma calça jeans, minha sapatilha rosa e um cinto de corrente dourada. Ainda está simples. Né?

Pro friozinho do ar condicionado no trabalho, meu cardigã novo. Verde bandeira. Adoro verde com rosa.

Então, ficamos assim: minha camisa branca que vale cada centavo, uma calça jeans, minha sapatilha rosa, um cinto de corrente dourada e meu cardigã verde bandeira.

E meu colar de coração partido.

E meu relógio dourado, que eu já uso todo dia mesmo.

E um rabo-de-cavalo com topetinho.

Não adianta. Eu nasci pra ser perua.

domingo, 19 de junho de 2011

u can't touch this

Porque aí eu passo horas, dias, to-da-a-mi-nha-e-xis-tên-cia falando sobre o menino, sobre aquele menino que eu já pensei que entendia e nunca entendi, e sobre como ele não se abre, não fala de si, não gosta de mim, não faz nada por mim, dá sinais malucos, um passo pra frente, um passo pra trás. Abraça como se gostasse. Não liga no dia seguinte como se não se importasse.


Converso com os amigos, revivo diálogos, encaminho e-mails, interpreto gestos. Não vou nem falar de quantas sessões de terapia já foram gastas nessa análise do nada, da música enviada, de como na maioria das vezes eu sou gatinha e não renata e como me incomoda não ser chamada pelo meu nome, do ponto final no sms, do ponto de exclamação no e-mail, sei lá, do convite pra fazer nada juntos, do carinho na mão durante o jantar. Todo um esforço pra entender, todo um esforço.

E, no final - que final? qual final? - tudo se resume a uma coisa:
-Ele é complicado. Você é complicada. Ele é igual a você.

Oi?

O quê?

Espera aí.

Não fala isso de mim. Eu sinto tantas coisas. Eu penso tantas coisas. Eu só não falo essas tantas coisas. Eu só não confirmo. Eu só não quero ficar por baixo. Eu só quero ganhar. Eu só quero uma garantia. Eu só quero ter a vantagem. Eu só quero me proteger. Eu só não quero prometer o que eu não sei se posso dar.

-Ele é igual a você. Você encontrou uma pessoa igual a você. Tá entendendo? Tá sentindo como é?

Pior que tô.

Fuck.

there's a gap in between
there's a gap where we meet
where I end and you begin
...
I can watch but not take part
where I end and you start


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ontem, eu mal tinha entrado na sala quando ouvi a pergunta:
-Tia, você cortou o cabelo?

Ontem foi quinta-feira. Eu tinha cortado o cabelo na sexta da semana anterior.

E meu aluno de 10 anos foi o primeiro a reparar. O primeiro a reparar.

Assim, entende o que eu tô falando?

Tem dias em que a vontade é ficar sentadinha, suspirando de mãozinha no queixo.

depois uma aluna adolescente também reparou, com um pouco de choque, que eu tinha cortado o cabelo. é que num rabo-de-cavalo alto ele parece mais curto. mas não se preocupem, ainda continuo no cabelão way of life.

terça-feira, 14 de junho de 2011

-Tia, você já sentiu, assim, que ninguém te entende e aí você já sentiu, assim, vontade de ir pra um outro mundo, onde as pessoas entendessem você?

-Sim, Ana Clara.
-Eu fico pensando, tia, como seria ir pra outro planeta. Será que os ETs iam me entender? Eu fico aqui pensando, como será que os ETs pensam? Ai, tia, tanto pensamento é filosofia, né?

Só se pode amar a Ana Clara.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Porque você passa esse tempo todo tentando ter o controle. Dizendo que não tem nada, que não existe nada, que tá tudo bem assim. Prometendo que você nunca mais vai sentir aquilo e nunca mais vai ficar de coração partido porque ninguém mais vai chegar tão perto.


E é só quando você tá chorando, arrasada, por alguém que não era pra ter te deixado arrasada, alguém que você jurou que não ia te deixar arrasada, que você pensa: estúpida.

Estúpida.

sábado, 11 de junho de 2011

Não basta trabalhar no sábado. Enquanto estou saindo de casa, ainda tenho que ouvir meu pai perguntar:

-Renata, você penteou esse cabelo?

Assim. Defina pentear.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Continuo firme no mantra.


elenãogostademim.elenãogostademim.elenãogostademim.elenãogostademim.

Quando acordo: elenãogostademim.
Quando fico feliz porque no restaurante tem berinjelinha com mel e nozes: elenãogostademim.
Quando meus alunos só falam em português: elenãogostademim.
Quando meus alunos falam lindo em inglês: elenãogostademim.
Quando como pão no lanche da tarde no lugar da minha maçã verde, porque preciso de carinho, amor e abraço: elenãogostademim.
Quando Hannah tem que ir ao veterinário, o diagnóstico é "alergia a cimento" e a conta nem te conto: elenãogostademim.
Quando traduzo comentário chato do diretor de filme de machinho e escrevo na legenda "ele arrasou!" só pra me vingar: elenãogostademim.
Quando uso minhas botas novas e me acho tão cool: elenãogostademim.
Quando nenhuma roupa fica boa, tô gorda, feia e chata: elenãogostademim.
Quando na mesma semana acontece um terremoto 6.5 e vulcão entra em erupção bem lá pra onde minhas férias já estão pagas: elenãogostademim.
Quando recebo e-mails de amigos no meio do dia: elenãogostademim.
Quando o vento levanta minha saia: elenãogostademim.
Quando eu quase não consigo abrir o frasco de vitaminas de manhã: elenãogostademim.
Quando o verdureiro cobra mais caro de mim: elenãogostademim.
Quando não lavo as mãos antes de mexer nas minhas lentes de contato: elenãogostademim.
Quando eu esqueço de comprar pilhas pros meus controles remotos: elenãogostademim.
Quando eu perco horas de sono pra comprar ingresso pra ver os Strokes: elenãogostademim.
Quando meu irmão diz que eu sou a pior adulta que este mundo já viu: elenãogostademim.
Quando o delineador verde borra durante o dia e parece que eu tenho alguma doença estranha e grave nos olhos: elenãogostademim.
Quando todo mundo ao meu redor é mais novo do que eu: elenãogostademim.
Quando queimo a língua porque tenho pressa e não sei esperar antes de beber líquidos quentes: elenãogostademim.
Quando passo o dia de pijama e casaco: elenãogostademim.
Quando vou dormir de calça xadrez, camiseta do Pateta e meias listradas: elenãogostademim.

elenãogostademim.elenãogostademim.elenãogostademim.elenãogostademim.

Tá bom? Em todos os momentos. Pensamento bem forte. Reforçando o mantra com uma dancinha mental enquanto dentro da minha cabeça eu tô cantando u can't touch it.

Rá. Tô madura.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Vou lá medir minha pressão pro exame médico periódico da empresa. Minha pressão normalmente é baixa. Mesmo que eu tenha corrido antes ou feito polichinelos, sei lá, ela tá sempre baixa. Ela é baixa. Coisa de quem não tem muita emoção mesmo.


Daí vou lá medir e minha pressão está 9/6, que é mais ou menos o normal dela mesmo.

Ô, coração, você tá desistindo de bater, é isso? Resolveu largar de mão? Não tá mais valendo a pena?

E se eu prometer te dar mais emoções?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Daí você - no caso, eu - tá lá, lendo um livro que tem "love" no título. E alguém repara no título.

E você tem que ajeitar os óculos e dizer:
-Hm, na verdade, é um livro sobre loucura, obsessão e sobre como o amor não resiste a tudo.

Essa sou eu. Esse é o meu jeitinho.



é mentira que eu tenha ajeitado os óculos porque só preciso de óculos pra longe, não pra ler. mas achei que combinava com a cena.
...
o livro que eu estava lendo se chama Enduring Love, do Ian McEwan. no Brasil, o título é Amor sem Fim. existe um filme baseado nele, chamado Amor para Sempre, mas eu não vi. gostei do livro, mas meu preferido do Ian McEwan - que é um dos meus autores favoritos - ainda é Reparação, seguido de perto por O Jardim de Cimento.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Daí você é uma adulta, tem quase 30 anos, paga todas as suas contas (em dia!), toma vodca pura, leva seu trabalho a sério, tem vários acessórios e não gasta só com calça jeans, viaja sozinha, sabe ficar sozinha, toma suas próprias decisões (depois de perguntar a opinião de todas as amigas), vai à terapia toda semana sem falta, agenda massagens depois de uma semana ruim, e faz mais ou menos tudo isso que (dizem que) os adultos fazem.


Mas um dia você acorda e tem 15 anos de novo e nem se importa se já era ridículo fazer isso aos 15 anos, imagina agora aos 28; você acorda decidida a repetir o mantra "elenãogostademim.elenãogostademim.elenãogostademim" tantas vezes quanto forem necessárias para entender. Até esquecer.


Nada é melhor do que ouvir Alanis quando a gente acorda adolescente.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quando bebo, minhas orelhas ficam vermelhas e quentes.


Apenas mais um toque de ridículo na minha vida.