terça-feira, 31 de maio de 2011

Não é fácil. Tem dias em que eu chego lá pensando que não tenho nada a dizer. Mas sempre há algo a dizer. Eu quero ser melhor, é isso que eu quero. Eu podia ter escolhido mil coisas, mas eu escolhi a análise e eu vou até o fim pra ver no que dá.


Então, toda terça às 11:30 eu sento na poltrona preta, coloco a almofada no meu colo e falo sobre a minha semana, sobre o que eu estou sentindo, sobre a minha família, sobre meus amigos, sobre o meu trabalho. Não vou dizer que toda terça eu abro meu coração porque seria mentira. Não é o coração que eu abro. Primeiro porque tem dias em que eu não abro, eu fecho o coração. Segundo porque não é sentimento. É razão, é lógica, é causa e consequência. É razão. Eu vou lá pra entender o sentimento.

Daí eu sento lá e às vezes a porrada vem logo na primeira pergunta.
-E a sua mãe?

E eu não quero falar disso. Eu não quero falar da minha família. Eu não quero falar dos meus amigos. Não quero falar dos amores que eu perdi. Eu quero ficar aqui sentadinha, falando sobre as minhas músicas preferidas, sei lá. Falando sobre a cor da parede do meu quarto. Mas eu tô aqui pra isso. Eu vim aqui pra isso. Não posso fugir.

-Onde estão os seus planos? Quais são os seus sonhos? Você não tem?

E aceito que aquela sessão vai doer mais do que tudo, vai me fazer chorar quando ela perguntar "por que você está quase chorando?", vai me destruir um pouquinho, vai me deixar triste e pensativa o dia todo, vai me fazer balançar a cabeça sem querer aceitar o que ela tá dizendo.

E saio de lá bem pequena, minúscula, com o coração todo encolhido de medo do que viu. Mas não tem outro jeito.

Pra mim, não tem outro jeito. Não dá pra construir por cima. Não dá. Vai ficar um remendo feio. Todo mundo vai notar que não era pra ser assim. Eu vou saber. Dói, mas é preciso destruir para reconstruir.

E nada - nada - é tão bom quanto entender. Nada.

"toma um lencinho. toma dois lencinhos."

domingo, 29 de maio de 2011

o outro lado

Até agora você só havia debatido a relação com amigas. E amigas são fofas até pra matar sua esperança. Amigas são fofas. E às vezes dizem o que você quer ouvir. Às vezes dizem o que você não quer ouvir, mas de um jeito tão fofinho que fica até parecido com o que você quer ouvir.


Até que você resolve conversar com um amigo e ele interrompe sua história e diz:
-Nossa, mas esse cara não gosta mesmo de você, hein?

E você fica ali, com aquela cara de tonta. Quem sabe não é isso mesmo, né?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

"O sistema se recuperou de um erro grave."


Ah, foi? É mesmo? Pobre sistema, não é? Posso ouvir todo mundo dizendo "É nisso que dá não usar Ubuntu. Eu te avisei que ia dar em erro grave."

Pois fiquem todos vocês sabendo que o sistema se recuperou de um erro que ele mesmo causou. O sistema deveria assumir sua responsabilidade nisso e me pedir desculpa. Foi a minha vida que ele travou e fui eu que tive que reiniciar tudo, torcendo pra que nem tudo estivesse perdido.

O sistema pelo menos se recuperou. E eu, que nem isso? E eu, que continuo insistindo no erro grave sem saber quando vou me recuperar?

Ah, oops, desculpa a reação exagerada, Windows. Eu não tava mais falando de computador. He.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A aula era sobre problemas de adolescentes e é claro que as meninas começaram a falar de meninos. Até que uma delas, a mais falante, me perguntou como se diz "desistir" em Inglês. Eu respondi e ela disse, num Inglês todo bonitinho:


-Eu desisti do amor.

Doze anos. Tá bom? Doze anos. Sente o drama.

-Desisti mesmo. Desisti do amor.

Vontade de dar um abracinho e dizer que a gente nunca desiste. O pior é isso. Ou melhor, né? Nós tentamos. A gente tenta até se cansar, até fazer papel de idiota, até não fazer mais sentido. A gente tenta de várias maneiras, de todas as maneiras que a gente sabe.

Mas desistir a gente não desiste, Ana Clara. Não adianta.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Depois de quatro chopps e uma caipirinha de saquê que o garçom amigo dela escolheu pra mim, eu saí de lá com ela me dizendo "O importante é o amor! Eu acredito no amor! Viva o amor!"


Eu não acredito em amor, mas é bom conviver com quem acredita.

<3

Daí que a coisa de mudar nomes de ex na agenda chegou a um ponto em que eu sonho com isso.


No sonho, meu telefone tocava e o nome que aparecia era "IRÔNICO". Eu não atendia. Depois ficava super tensa. Ai, meudeus, por que o nome dele na agenda é IRÔNICO? Ele é irônico demais? É a pessoa certa no momento errado? A pessoa errada no momento certo? O que é irônico?

E aí você pensa que no sonho o sistema funcionava, né? Que eu pensava que ah, ok, vou deixar pra lá. Ele é irônico.

Mas, he, no sonho tudo o que eu queria era ligar só pra conferir o que é que ele tinha de tão irônico.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Eu adoro os textos da Luiza Trindade e este foi como um tapa na cara de todas as desculpas e explicações que eu uso. Ou tento usar.


Porque é exatamente assim.

NÃO! NÃO! NÃO!

NÃO!

NÃO.

Não.

Não, né?

Hm, não.

Talvez.

Por que não?

Ah, sim, né?

Sim-sim-sim-sim-sim!

E quando chego nessa parte, já tenho milhões de explicações racionais, já tenho dezenas de cartas de tarot pra me justificar. Já pensei, pensei, pensei. Falei, falei, falei. Me convenci. Convenci todo mundo.

E, no fundo, a única explicação é: porque eu gosto. porque eu quero. porque sim.

Daí chega o dia da terapia e você tem que explicar como se sente. Só que é tanta coisa que você não consegue. Não dá pra explicar. Não sai nada. Nem uma palavra.


E você apela para a mímica e um suspiro.

-Tô assim, ó.

E embola uma mão na outra.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Simplifiquei as coisas quando passei a dizer que sou complicada.


Sabe assim?

-Mas por quê?
-Sou complicada.
-Ah, tá.

Muito mais simples.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Às vezes o ato falho tá tão na cara, mas tão na cara que a vontade é de dar meia volta e ir até lá explicar que, não, eu não quis dizer aquilo, não fica achando que eu não entendi a situação, não fica pensando que...


Mas, assim, já foi, né? O ato foi falho e não tem como corrigir.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

"Invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou."

E depois fico toda desconcertada na terapia tentando explicar por quê.

o blogger.com ficou fora do ar durante algumas horas entre ontem e hoje e perdeu alguns posts. este foi um deles, agora republicado.

domingo, 8 de maio de 2011

Acordei e fui logo dar o presente da minha mãe, antes que o céu fechasse e raios caíssem na minha cabeça. Imagina se eu resolvo, sei lá, me alimentar antes de entregar esse presente, né?

Quem é filha da minha mãe tem medo. Daí corri até a cozinha ainda de pijama (hehe, vamos fingir que depois desse momento eu coloquei uma roupa decente e não troquei um pijama por outro pijama) e fui entregar o presente, já naquele medo. Olha, se não gostou, pode trocar, não sei se você prefere um relógio igual ao meu, você disse que tinha gostado e, bom, tá aqui o presente.

-Feliz dia das mães!

Daí quando entreguei o presente, me toquei que o cartão não tava dentro da sacolinha. Tentei salvar a situação.
-Você é a melhor mãe do mundo!
-Ai, acho que sou mesmo. Seu irmão já me falou isso hoje e até a Hannah.

Até a Hannah.
Eu disse? O que foi que eu disse?

Depois de um certo tempo na vida de single lady, depois de algumas histórias que acabaram sem nem ter começado, dá pra ficar com algumas lembranças.


Você vai ao cinema e "ah, puxa, foi aqui o meu primeiro encontro com aquele menino confuso." Você vai ao bar das comidinhas gostosas em potinhos e "ah, puxa, foi aqui meu primeiro encontro com o nip/tuck."
Você vai ao restaurante japonês e "ah, puxa, foi aqui meu primeiro encontro com aquele menino que usava umas roupas engraçadas."

Depois de muito tempo na vida de single lady, você não pode mais ter esse luxo de ter lembranças.

Você vai ao cinema e "ah, puxa, foi aqui o meu primeiro encontro com aquele menino confuso. e também com aquele que se achava muito diferente. ah, e também com aquele que disse que não gostava de cachorros."

O melhor é entrar pra ver o filme de uma vez, que tá quase na hora da sessão.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Só porque às vezes dá vontade de explicar.


Que, cara, não é nada com você. É que tanta coisa aconteceu antes de você. Não é você, não se sinta mal. Não é você. Sou eu. De verdade. Sou eu e tudo que aconteceu antes de você. E agora deu nisso.

Então, sério, não leve a mal, não se sinta mal. Eu tô aqui chorando por uma bobagem qualquer que você fez, mas, olha, não é um problema que você tenha feito isso. Você não é uma pessoa ruim por causa disso. Foi uma bobagem. E normalmente nem é motivo de choro. Uma bobagem de verdade.

O problema é que já fizeram tanta bobagem antes de você. Eu fiz tanta bobagem antes de você, que a sua bobagem me faz chorar. Mas, assim, não é você.

Sou eu.

E tudo que aconteceu antes.

Não liga, não.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Hoje minha mãe chegou no trabalho e tinha um presente na mesa dela.


No cartão, estava escrito: "Para Rutinha, de um fã."

Um fã.

Um fã.

Um fã.

Vocês conseguem imaginar o quanto ela está insuportável?

"Eu sou mesmo muito querida. As pessoas gostam muito de mim."

Ouvirei sobre isso durante semanas.

Valeu, hein, fã da minha mãe?