Eu sou um cliché da mulher de 30. É o que eu penso enquanto resolvo jantar só sobremesa. Sou um cliché da mulher de 30 atrapalhada protagonista de uma comédia romântica quando sujo meu cabelo todo de doce de leite. Talvez na próxima cena alguém sinta um cheiro doce, resolva investigar de onde vem e descubra que vem de mim. Só que eu não sou a protagonista atrapalhada de uma comédia romântica e no caminho para casa eu fico tensa reorganizando todos os meus planos porque agora a primeira coisa que eu vou fazer quando chegar em casa é tomar banho e não fazer bolinhos de arroz, agora só depois do banho eu vou fazer os bolinhos de arroz.
Você e eu e todos nós, os protagonistas clichés das nossas próprias vidas. Eu pensando em mim mesma enquanto compro leite fresco, a última das minhas frescuras, dos gastos que eu não preciso fazer mas faço, porque eu sou sozinha, acordo todos os dias às 6:30 então eu mereço leite com gosto de leite.
Você e eu e todos nós, comprando um livro do Caio Fernando Abreu, morrendo de medo de ser (mais) cliché. Protagonista da próxima cena cliché com uma vitrola, uma taça de vinho, meu robe florido. De que filme eu saí, que história eu estou contando?
Eu pensando que quero escrever sobre Lisboa, a única cidade depois de Paris que me deixou de coração apertado na hora de ir embora. A única cidade depois de Paris que eu deixei sabendo que ia voltar o quanto antes. Lisboa, a única cidade que eu digo pra todo mundo ir, só se pode amar Lisboa. Paris eu evito recomendar. Uma parte por ciúme, uma parte pra evitar o cliché. Mas eu vou chegar em casa, taça de vinho, meu robe florido e vou adiar mais uma vez escrever sobre Lisboa.
quarta-feira, 17 de junho de 2015
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