eu sei que dia é hoje
Eu achei que nunca aconteceria. Eu achei que ia explodir em mil pedaços bem pequenininhos. Eu achei que ia evaporar. Eu achei que ia derreter. Eu achei que ia virar pedra. Eu achei que nunca aconteceria. Eu achei que nunca mais te veria. Eu torci para te ver, eu torci para nunca acontecer, nunca mais.
Eu desejei que as suas samambaias secassem, que sua cerveja esquentasse, que sua caipirinha viesse sem açúcar. Quando eu passasse por você de cara alegre e cruel. Você nem ia me reconhecer. Já ia me encontrar refeita. Tantos homens etc. Eu achei que teria coisas a dizer. Eu achei que nunca aconteceria.
Eu olhei para você três vezes. Na primeira eu olhei para você e fugi pra um lugar dentro de mim onde só são repetidas as cenas que me explicam por que não, que me garantem que, não, eu não posso olhar para você. Eu olhei uma vez só e esperei você ir embora, sumir da minha frente de novo. Você ficou. Eu senti muito frio.
A segunda vez que eu olhei para você foi um acidente, eu achei que você não estava mais ali. Eu entendi errado o que me disseram. Eu olhei para você. Eu explodi em mil pedaços bem pequenininhos. Eu evaporei. Eu derreti. Eu virei pedra. A minha mão nunca mais tocou a sua.
Na última vez que eu olhei para você foi indo embora. Eu olhei para você pela última vez, repetindo que não e por que não. Eu sei por que não, soube tantas vezes e mesmo assim eu fiquei. Até que eu entendi que de você não consigo ter só um pouco. Você estava certo. Aquele sei-lá-o-quê-que-nos-aproxima, que eu desastradamente chamei de amor. Eu olhei para você.
Eu ouvi a sua voz e senti uma saudade infinita. Você nunca mais me abraçou.