É ruim terminar. Acho que pra todo mundo. Pra mim tem uma coisa particularmente difícil em terminar.
Eu não me sinto confortável. Assim, no mundo. Eu não me sinto confortável. Eu nunca me senti confortável. Eu não me sentia confortável quando era criança. Quando era adolescente, me senti menos confortável ainda e quando virei adulta, além de não me sentir confortável, eu fui tentar entender por que eu não me sinto confortável, o que só fez com que eu me sentisse menos confortável ainda.
Eu não sei onde colocar as mãos e os pés e eu nunca acho que estou olhando na direção certa. Todos os meus gestos foram treinados e você pode me ver e achar que tá tudo normal, mas eu tô planejando a posição das minhas sobrancelhas na sua próxima frase ou estou mordendo as minhas bochechas só porque sim.
Algumas vezes na vida eu conheci pessoas com quem eu me sentia confortável. É uma coisa que leva muito tempo. Leva muito tempo até que eu deixe de esconder as mãos nos bolsos e consiga segurar a mão de alguém. Mais tempo ainda pra que eu não tente me livrar de um abraço. Mais tempo ainda para que eu voluntariamente apoie minha cabeça no ombro de alguém. Algumas pessoas dizem "eu te amo"; eu permito que as pessoas mexam no meu cabelo e me abracem.
E depois de tanto tempo, quando eu finalmente consigo ficar parada vendo tevê com um braço em volta de mim. Quando eu finalmente me sinto confortável com aquele calor que não é meu. Além de me despedir do sentimento, eu tenho que me despedir do corpo. Das mãos, dos ombros, dos pés que depois de tanto tempo eu permiti que tocassem os meus embaixo do lençol sem que eu tivesse um ataque de ansiedade. Não tem mais. E é só o meu corpo de novo, sem saber o que fazer com meus dedos dos pés dentro do tênis, tentando esconder que estou procurando uma posição confortável pra minha própria língua dentro da minha própria boca.
Não é só dar adeus a alguém. É dar adeus ao meu conforto.