Minialuno me chama, pedindo:
-Tia, me ensina uma coisa?
Meu coração se enche do mais puro amor. É claro que eu ensino, querido. Eu nasci para ensinar. Nunca quis fazer outra coisa na vida além de ensinar. O que você quer aprender?
-Como faz o "s" daqui?
E aponta pra palavra "page".
-Como assim, Lucas? Nessa palavra não tem "s".
Erro número um: esperar que as coisas façam sentido. Se o mundo, que é o mundo há bilhões de anos, não faz sentido, não é um minialuno de sete anos que vai fazer.
-Tia, assim, me ensina a fazer o "s".
-Faz um "s", ué.
Pequeno momento de pânico. Essa criança não é alfabetizada? Me deram uma criança não alfabetizada? O que eu faço? Socorro, socorro. O que ele tava achando que eram todas essas letras? Desenhos? Por que só agora, depois de cinco aulas, ele vem revelar que não sabe escrever?
-Tiaaa, me ensina a fazer o "s" dessa palaaaavra.
-Lucas, "page" não tem "s".
-Aqui, tia, aqui, me ensina!
-Lucas, você está apontando pra uma palavra que não tem "s". Me explica o que você quer.
Erro número dois: continuar procurando o sentido. Por que eu não simplesmente saio assoviando e pensando em pandinhas lindos, como se o assunto estivesse resolvido? Por que não? Por que eu não consigo?
-Eu quero fazer o "s".
-Tá. Você não sabe escrever?
-Tiaaa, me ensina o "s" em inglês aqui nessa palavra.
-Lucas, eu já falei que essa palavra não tem "s". Essa palavra tem "p", "a", "g" e "e". Não tem "s".
-Tia, mas essa palavra tá em inglês. Por favor, me ensina o "s" em inglês.
-O "s" em inglês?
-É, tia. Como é que eu escrevo a letra "s" em inglês?
de.onde.surgiu.essa.dú.vi.da?
-Lucas, o "s" é igual em português e inglês. Pode fazer igual. Você sabe fazer o "s" em português? Então, em inglês é igual.
-Uau! Sério, tia? É igual mesmo?
E ele fez o "s" mais bonitinho do mundo.