Então, toda terça às 11:30 eu sento na poltrona preta, coloco a almofada no meu colo e falo sobre a minha semana, sobre o que eu estou sentindo, sobre a minha família, sobre meus amigos, sobre o meu trabalho. Não vou dizer que toda terça eu abro meu coração porque seria mentira. Não é o coração que eu abro. Primeiro porque tem dias em que eu não abro, eu fecho o coração. Segundo porque não é sentimento. É razão, é lógica, é causa e consequência. É razão. Eu vou lá pra entender o sentimento.
Daí eu sento lá e às vezes a porrada vem logo na primeira pergunta.
-E a sua mãe?
E eu não quero falar disso. Eu não quero falar da minha família. Eu não quero falar dos meus amigos. Não quero falar dos amores que eu perdi. Eu quero ficar aqui sentadinha, falando sobre as minhas músicas preferidas, sei lá. Falando sobre a cor da parede do meu quarto. Mas eu tô aqui pra isso. Eu vim aqui pra isso. Não posso fugir.
-Onde estão os seus planos? Quais são os seus sonhos? Você não tem?
E aceito que aquela sessão vai doer mais do que tudo, vai me fazer chorar quando ela perguntar "por que você está quase chorando?", vai me destruir um pouquinho, vai me deixar triste e pensativa o dia todo, vai me fazer balançar a cabeça sem querer aceitar o que ela tá dizendo.
E saio de lá bem pequena, minúscula, com o coração todo encolhido de medo do que viu. Mas não tem outro jeito.
Pra mim, não tem outro jeito. Não dá pra construir por cima. Não dá. Vai ficar um remendo feio. Todo mundo vai notar que não era pra ser assim. Eu vou saber. Dói, mas é preciso destruir para reconstruir.
E nada - nada - é tão bom quanto entender. Nada.
"toma um lencinho. toma dois lencinhos."