segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Hannah se foi hoje, no colo do meu pai, que sempre foi a pessoa preferida dela no mundo todo.

Ela era minha cachorra preferida no mundo todo e nós nos despedimos ontem, sem saber que era adeus, mas sentindo que nosso tempo estava chegando ao fim.


Estamos todos tristes e já com saudade, mas tranquilos porque ela não merecia mais dias como os últimos e os 13 anos que ela passou conosco vão ficar para sempre.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Meu pai me envia quase diariamente imagens e vídeos que ele acha na Internet. A Internet para ele é o Facebook e o Whatsapp, onde ele mantém contato com parentes e amigos e até pessoas que ele nunca viu, no caso do Facebook, mas que compartilham coisas que ele acha interessantes, como fotos de orquídeas, tudo relacionado ao Fluminense, imagens antiPT e vídeos de passarinhos joão-de-barro construindo suas casas.

Meu pai parece gostar especialmente de vídeos e fotos de passarinhos joão-de-barro construindo suas casas, porque ele compartilha muitos desses, muitos mesmo. Me lembro de quando eu era criança e achava esse passarinho um ser fantástico, e de ler tudo que caísse nas minhas mãos sobre ele. Me lembro, então, que minha vó era fascinada pelo joão-de-barro, e foi através dela que eu descobri que ele existia. Passei muitos anos sem pensar nesse passarinho e seu ninho, que era uma casa, até que recentemente me lembrei que ele existia, por causa dos vídeos e fotos que meu pai compartilha.

Me lembro do joão-de-barro, me lembro da minha avó e penso no meu pai.

Me pergunto se ele, como eu, consegue ver de onde vem tanto interesse por um passarinho que constrói um ninho de barro.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

É química e eu sei que é química. Existe uma explicação científica para o amor. Eu sei, mesmo tendo tirado 0,28 no vestibular há 16 anos, mesmo tendo tirado essa nota usando regra de três, sem ter usado qualquer fórmula ou qualquer coisa que faça sentido dentro da química. Eu sei, é oxitocina. É endorfina. É dopamina. Eu sei que o amor é explicado por um fluxo de substâncias químicas num corpo.

A ciência explica que o amor é o resultado de um processo de condicionamento do cérebro. O vício em cocaína também. Essa sensação de que você esteve aqui o tempo todo e de que você nunca vai embora. É química. Eu sei e você sabe.

Todos os poemas de amor: química. Todas as músicas: química. Aquele som que você faz quando acorda: química. Eu levantando da cama porque você levantou quando na verdade eu queria continuar dormindo: química. Você lendo jornal do meu lado no domingo: química. Minhas bochechas queimando: química. Eu contando minutos: química. Você passando manteiga no meu pão de manhã: química. Você colocando um disco pra tocar: química.

Mas pensa na coincidência.


Que eu exista e você exista ao mesmo tempo no mundo. Que você tenha passado por mim ou eu por você, a gente não sabe bem. Que você tenha uma foto de perfil olhando para cima no Mosteiro dos Jerónimos igual a minha. Que você tenha me feito rir no mesmo dia que eu te fiz rir.

É química. Mas pensa.