terça-feira, 9 de agosto de 2016

Dentre todos os barulhos que o ser humano é capaz de produzir, talvez o que eu mais odeio seja aquele da língua com os dentes. Sabe, shlept shlept? Chego a fechar os olhos de tão incomodada.

Durante um semestre há alguns anos, tive uma aluna que fazia isso durante toda a aula. A turma dela tinha 3 horas de aula aos sábados e durante essas três horas eu escutava shlept shlept. Ela sentava na fileira da frente e eu não tinha para onde fugir. Para a esquerda, para a direita, o shlept shlept ia comigo.

Aquilo me incomodava tanto que muitas vezes estive a ponto de pedir que ela parasse. Sabe esse barulho que você faz com a língua e os dentes? Não faça, por favor, está me matando aos poucos. Está corroendo alguma coisa dentro de mim. Incontáveis vezes. Escolhi palavras, ensaiei, abri a boca várias vezes com a intenção. E desisti.

Mais inapropriado do que o shlept shlept era eu tentar corrigir o comportamento de uma adulta que só me pediu pra ensinar inglês.

Sempre me lembro disso, me lembro cada vez mais. Toda vez que estou a ponto de. E me lembro que se fui capaz de sobreviver àquelas tardes de sábado de 2009.2 também sou capaz agora.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Na rua do M. tem um boteco. Todo fim de semana a gente passa pelo boteco pra ir a algum lugar. Padaria. Supermercado. Pegar um táxi. Padaria hipster que não tem lugar pra sentar. Cinema.

Todo fim de semana estão lá no boteco as mesmas pessoas jogando dominó. Tem sempre um cara sentado sozinho com uma cachorrinha. Toda vez que a gente passa por lá a gente fala com ela.

Outro dia a gente foi jantar, a cachorrinha estava de manta. Tava super frio no Rio. Menos de 20ºC, eu sinceramente não aguento esse frio. Bom, aí a cachorrinha estava lá, coberta com uma mantinha. Vou te dizer que a única coisa que me deixa feliz no frio é ver cachorro de roupinha. Daí eu quase chorei de tão linda que tava a cachorrinha de manta. Na volta do jantar, a gente parou pra falar com um amigo que tava no boteco e aí eu percebi que o dono da cachorrinha odeia a gente. Eu não sei por que, mas ficou claro que ele detesta que a gente fale com a cachorrinha de manta (provavelmente ele detesta que a gente fale com a cachorrinha sem manta também).



Eu só preciso que todo mundo entenda que: se você tem um cachorro, eu vou falar com ele. Se você tem um cachorro, ele é meu amigo. Meu amigão. Aceite.